A literatura tem o poder de transformar vidas. No Colégio Estadual de Tempo Integral Berilo Vilas Boas, em São José do Jacuípe, no semiárido baiano, ela encontrou um caminho. Ali, um grupo de jovens encontrou nos livros um refúgio, um respiro no meio da dureza do dia a dia.
O projeto, que atende pelo nome simples e direto de ‘Um livro para salvar uma vida’, oferece mais do que conhecimento. Ele cria um espaço para que os estudantes possam se encontrar, ouvir e serem ouvidos, em meio a páginas cheias de histórias.
O projeto nasceu em 2021, como parte de um programa de iniciação científica. Foram os próprios alunos que, em diferentes séries do Ensino Médio, deram vida ao Clube Deleit(ura). Hoje, são cerca de 100 estudantes que se reúnem uma vez por mês em Círculos de Leitura. Em cada encontro, um tema é escolhido, um livro é lido. E o clube ganha corpo, ganha alma.
A professora Senaria Oliveira Santana, de Língua Inglesa, conduz essa experiência. Ela observa, em cada encontro, como a literatura se mistura à vida desses jovens. “(O projeto) propõe que os estudantes reflitam sobre como aquele livro pode ser transformador em suas vidas, compartilhando suas narrativas pessoais e conectando suas experiências à literatura, que funciona como um lugar de acolhimento”, explica a professora.
Em setembro, os alunos tiveram a chance de compartilhar essa vivência com outros estudantes, em Salvador, no Centro Estadual de Educação Inovação e Formação da Bahia (Ceeifor) Mãe Stella. Thaislane Brandão, aos 17 anos, chegou com o coração na mão e o livro “Biblioteca da Meia-Noite” na outra. “Levei o livro que me ajudou num momento difícil”, ela diz. “Foi incrível compartilhar minha história e ouvir as dos outros colegas”, completa a estudante.
E ali, naquele encontro, as palavras ganharam vida própria. As páginas se tornaram um espelho para tantas outras histórias. Levy Souza, com seus 16 anos, mergulha na jornada emocional que o projeto oferece. “É uma aventura sentimental”, ele define, quase como quem confessa um segredo. “É uma aventura sentimental, em que falamos de livros que nos ajudaram a superar fases difíceis. Embora seja doloroso relembrar, compartilhar essa superação é libertador. Espero que minha história possa ajudar outras pessoas.”
As palavras de Levy flutuam pelo ar como um lembrete de que, em cada livro, há um abrigo. “Acredito que não existe nada mais acolhedor do que um livro”, afirma o estudante do 2º ano.
O Clube Deleit(ura) começou tímido, com apenas oito participantes. Mas cresceu. E cresceu rápido. A ideia ganhou força, atraiu olhares, despertou novas leituras. Surgiu então uma biblioteca, feita com os livros lidos pelos integrantes. Uma biblioteca viva, cheia de significados e de histórias.
“A leitura acontece de forma voluntária, em que o aluno não é obrigado a participar”, explica a professora Senaria. “À medida que o estudante consegue evoluir na leitura, a partir dos clássicos, ele vai ampliando não só suas opções literárias, mas a leitura que faz do mundo, adquirindo também mais experiência, a partir do compartilhamento de suas vivências, que acontecem durante os encontros.”
A literatura, que um dia pareceu distante, hoje é parte do cotidiano desses jovens. Ela chega como uma luz, uma mão estendida. Cada página virada é um passo adiante. E assim, o Clube Deleit(ura) segue em frente, salvando vidas, uma leitura de cada vez.
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