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terça-feira, 18 de agosto de 2015

Coité – Mãe vive a quase cinco anos recolhendo recicláveis para formar filho em medicina e conta com apoio de um irmão

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Quem passa no fim do expediente comercial em Conceição do Coité de segunda-feira a sábado, e até mesmo aos domingos, no caso de farmácias e supermercados, percebe uma mulher de aproximadamente 45 anos, e um homem com idade superior, recolhendo caixas de papelão de lojas e farmácias, talvez não saiba que se trata da mãe e o tio de um estudante do curso de medicina em uma faculdade na cidade de Aracaju, capital sergipana. 

Eles cumprem essa rotina a aproximadamente cinco anos, e dizem que a luta vale a pena e devem manter o trabalho por mais um ano, quando acontece a formatura do futuro médico.
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A mãe do estudante, Evanildes Silveira, pediu para não citar o nome do filho a pedido do mesmo, motivo não divulgado, mas para evitar qualquer tipo de especulação, o Calila antecipa que o pedido da não exposição na mídia, não é por vergonha do trabalho da sua mãe e do seu tio, pois, ele já emocionou pessoas que em algumas ocasiões viram o quase médico empurrando o carrinho carregado de papelão em período de férias ao lado da mãe e do tio.
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A mãe disse ao CN que em 2010 ele havia passado no vestibular na primeira tentativa, mas a falta de condições não permitiu que fosse para a Universidade, “Até que tentamos, encontramos apoio de algumas pessoas, mas esse negócio quando passa é logo chamado, e foi feito de tudo mas não conseguimos a viagem. Pedi a ele que deixasse isso pra lá, já que eu não tinha condição, ele parecia ter desistido da ideia, mas continuou em cursinho e persistiu até que no ano seguinte conseguiu ótima nota no PROUNI ficando em terceiro lugar”, contou emocionada.

Evanildes que trabalha como merendeira do Colégio Iêda Barradas Carneiro (pelo PST) inclusive está a 90 dias sem receber salário, ela que tem formação no antigo magistério e técnica em contabilidade, conta que a missão de coletar papelão e outros reciclados teve inicio na escola, onde sobra muita caixa de papelão, e uma colega dela disse que aquele material reciclava, daí em diante começou a levar pra sua casa e seu irmão José Carlos da Silveira “Carlinhos” providenciou o comprador, “então começamos a empilhar o material em casa que mais parecia um armazém, e depois vendia e o dinheiro era depositado para meu filho. Com o tempo o pessoal começou a observar e muitos comerciantes ao me encontrar informavam que tinha papelão e era pra eu ir pegar, situação de pessoas ligarem pra meu celular mandado eu passar pra pegar. A missão não é fácil, mas não posso mencionar nomes aqui de quem me ajuda para não cometer injustiças, pois a grande maioria dos comerciantes colaboram conosco avisando e tem até quem vá em casa levar, eu sou muito grata pro isso” conta Evanildes.
Tio disse que o trabalho o tornou outro homem
Momento de grande esforço para amarrar a carga.
Momento de grande esforço para amarrar a carga.
José Carlos da Silveira, 59 anos, precisa de esforço dobrado para executar a tarefa, pois foi vítima de dois graves acidentes que lhe deixou com graves sequelas, mesmo assim cumpre a missão desde o início ao lado da irmã e garante que tem sido uma ‘fisioterapia’ pra ele, que antes não tinha ação, ficava sentado na porta de casa passando o tempo fazendo cruzadinha e quando resolveu iniciar os trabalhos usava duas muletas para se locomover. Hoje usa apenas uma e até anda sem ela.
Este é o semblante de Carlinhos na execução do trabalho.
Este é o semblante de Carlinhos na execução do trabalho.
Carlinhos conta que o primeiro acidente foi em 1979,  em 1991 outro, tendo fraturado o fêmur e a tíbia quando atravessava a Avenida Suburbana em Salvador, só acordou no Hospital Geral do Estado – HGE. Diante do segundo acidente passou a sofrer com hérnia de disco, artrose, problemas no joelho, “foram 12 anos correndo atrás de tratamento e INSS o qual passei 26 anos lutando para ganhar o status de aposentado, no período de 79 a 2003”, contou Carlinhos.

Carlinhos disse que inicia os trabalhos às 07h e as vezes só para por volta das 22h depois de várias idas e vindas do comercio para casa, conta que o valor pago por quilo de papelão é R$ 0,18 (dezoito centavos) e para alcançar o valor de um salário mínimo precisa vender mais de 4 mil quilos.

São várias viagens do comercio para casa e sem dispensar a muleta.
São várias viagens do comércio para casa.
José Carlos disse com lágrimas nos olhos que faz tudo isso por muita espontânea vontade, tem feito empréstimos em prol do sobrinho e já pensa em não desistir após a sua formatura. “Já estou pensando seriamente em não parar, pois aqui encontrei a boa fisioterapia que me tornou outro homem, quem sabe se não crio uma empresa para comprar esse material que hoje vendo?”

A Universidade Federal de Sergipe – UFS é onde estuda o filho de Evanildes e sobrinho de José Carlos, ele cursa o 10º Semestre, mas ainda não tem nenhuma remuneração, é mantido com ajuda da mãe e do tio com o trabalho de coleta de material reciclável, de uma ajuda de custo da Prefeitura Municipal de Coité no valor de R$ 300,00 do Programa de Apoio ao Estudante – PAE.
OBS: falha nossa no vídeo quando trocamos o objeto usado pra ajudar na locomoção de José Carlos. Por mais de uma vez é citado bengala, útil ao deficiente visual, quando deveria citar muleta para pessoas com algum tipo de deficiência após sofrer um acidente como é o caso de Carlinhos.

           
Do Portal CN

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