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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Artigo da ex-ministra Eliana Calmon: Nunca antes neste país se viu nada igual…

Venho observando as notícias sobre as investigações da operação “Lava Jato”. Como a maioria dos brasileiros, permaneço cética em relação aos resultados concretos, sempre adiados e depois esquecidos por todos, inclusive pelos mais revoltados cidadãos brasileiros.

Procuramos o culpado (ou culpados), pelo frustrante resultado e infelizmente, não sabemos a quem debitar a conta.

Como magistrada, participei de diversas operações policiais grandiosas envolvendo autoridades. Fui juíza rigorosa e atenta, mas pouco pude ver de concreto nos processos que consumiram grande parte do meu tempo como julgadora. O que vi foram resultados muito aquém dos esforços e gastos na condução do processo. Portanto, falo com a propriedade de quem conhece o sistema nas suas entranhas.

Os únicos processos grandes, envolvendo corrupção da cúpula do poder com resultados visíveis foram: o determinante do impeachment de Collor, quando ficou provado ele ter recebido propina – representada por um Fiat; o Mensalão, quando as provas evidentes do processo deixaram o STF, sem alternativa senão a condenação.

Grandes escândalos
Para não parecer pessimista, basta lembrar dentre os maiores escândalos financeiros envolvendo altos figurões da República e desvios de recursos públicos, cujo destino já se sabia de antemão – iriam para as campanhas eleitorais e engordariam as contas pessoais dos candidatos e seus parceiros:

Anões do Orçamento (1989 a 1992, 800 milhões dentro do Congresso Nacional); Vampiros (1990 a 2004, 2,4 bilhões, fraude a licitações dentro do Ministério da Saúde); TRT de São Paulo (1992 a 1999, 923 milhões, envolvendo o Senador Luiz Estevão e o Juiz conhecido como Lalau); Banestado (1996 a 2000, 42 milhões, no Estado do Paraná); Banco Marka (1999, 1,8 bilhões, dentro do Banco Central; Pobre Amazônia (1998 e 1999, Sudam, 214 milhões); Máfia dos Fiscais (1998 a 2008, 18 milhões, Câmara dos Vereadores de São Paulo); Mensalão (2005, 55 milhões, Câmara Federal, envolvendo o PT); Sanguessugas (2006, 140 milhões, envolvendo 3 senadores e 70 deputados); Operação Navalha (2007, 610 milhões, envolvendo o Ministério das Minas e Energia, nove Estados, o DF e a empresa Gautama).

Todos esse escândalos foram investigados pela Polícia Federal, monitorados pelo Ministério Público Federal e processados pela Justiça. Mas, houve punição adequada?

Como vemos, a descoberta das falcatruas na Petrobras, conhecidas por todos desde as eleições de 2010, foram repetidas com maior perfeição nas eleições de 2014 e antes do segundo turno o governo se mobilizou politicamente para abafar as investigações: esvaziou a CPI da Câmara, tentou desconsiderar o magistrado Sérgio Moro, disse que se tratava de investigações de cunho politico-partidário patrocinadas pela oposição e conseguiu retardar o que só agora vem a tona, com força total, pouco menos de um mês após a apuração de todas as urnas e a reeleição da Presidente.

Já existe uma certeza
Hoje comprova-se que não é especulação ou invenção eleitoral e sim uma certeza – pelo que já está apurado por documentos e declarações – trata-se do maior escândalo de corrupção do Brasil, alcançando a cifra de 60 bilhões retirados de uma única empresa, a Petrobras. Os mandantes e beneficiários estão ligados diretamente ao governo federal, pertencem ao PT e aos partidos que dão sustentação política a Dilma, via as maiores empreiteiras do país. Os empreiteiros, presos provisoriamente, já com a experiência do Mensalão, de que os figurões políticos conseguem a liberdade, estão aderindo maciçamente ao instituto da delação premiada.

Diante do quadro que se tem no momento, quando tudo parece levar ao caso do – sem saída para o governo que promoveu, ou ao menos chancelou o absurdo desfalque, somos surpreendidos com a fala presidencial, que se apossou da corrupção perpetrada para dizer em alto e bom som: “Nunca antes neste país o governo promoveu tão séria e severa investigação pela MINHA Polícia Federal, pelo MEU Ministério Público e pela MINHA Justiça Federal”. Tudo virou governo (e do governo), porque não mais se tem a noção do que seja Estado e do que seja governo. Tudo é uma coisa só.

“Terceiro turno…”
O ministro da Justiça, no mesmo diapasão, com a voz embargada por uma teatral indignação, disse: “Estamos investigando, a Presidenta quer o maior rigor nas apurações, mas não vamos admitir o terceiro turno”.

E como já é de costume, como aconteceu no caso do Mensalão, alias, o governo afirma nada saber. Porém, é difícil acreditar que a milionária campanha eleitoral governista, tenha sido bancada unicamente com o dinheiro do fundo partidário e doações espontâneas das empresas. Não acredito que assim pensem a Polícia Federal (quase sucateada nesses quatro últimos anos) e o Ministério Público. E muito menos, que se acredite que os brasileiros são cegos a ponto de não verem o que está realmente acontecendo.

A Presidente se elegeu com 53 milhões de votos e com o auxílio de 39 milhões de eleitores que lavaram as mãos ao darem seu voto em branco ou nulo. Mas nós estamos vigilantes e mobilizados em nome da verdadeira democracia, da ética e da cidadania para, como oposição e testemunhas históricas, exigirmos maior rigor e pudor nas condenações. Não vamos esmorecer. Exigimos apuração séria e competente não pela Polícia de Dilma, mas pelas instituições democráticas deste país, nascidas antes do PT.

Eliana Calmon - (artigo enviado por Mário Assis)- Tribuna da Internet

Do Portal Interior da Bahia

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