No entanto, ainda há demanda por mais de 430 mil cisternas só no Nordeste e Norte de Minas Gerais.
O baiano Gilvan Rodrigues, 31, não precisa mais pegar água em açudes e nas cisternas de outras pessoas. O agricultor, que vive no município de Uauá (BA), é pai de três adolescentes. Ele conta, feliz, que agora pode ter uma vida mais digna com menos sacrifício. “Tudo mudou para melhor após a cisterna de polietileno ter sido instalada em nossa casa. Cozinhamos e bebemos mais”, conta. “Antes, a gente não sabia nem o que estava bebendo. Pessoas adoecem por consumir água de má qualidade. Com a instalação do reservatório, a nossa saúde mudou para melhor e não sofremos mais com diarreia”, explica.
De acordo com uma pesquisa inédita do Instituto Vox Populi, o índice de saúde melhorou em 93% dos lares contemplados. No período de 12 meses, 58% dos membros das famílias que receberam o equipamento em casa não ficaram doentes.
A pernambucana Vanda dos Santos, 60, mora em Petrolina - PE com uma filha. Vive de uma pequena pensão. Com a nova cisterna, ela tem acesso à água mais facilmente. Antes, dependia apenas do encanamento que tem em sua casa, mas que nem sempre funciona. A família vende sorvete para ajudar na renda e, segundo Vanda, muitas vezes, já deixou de comercializar o produto por falta do precioso líquido. “A água do encanamento chega só a cada oito dias e vem pouca. Antes da cisterna era um sufoco. Agora, nunca falta, ficou tudo mais fácil e a renda aumentou”, esclarece.
A mudança radical na realidade de Gilvan e Vanda vem acontecendo também com milhares de pessoas do semiárido e agreste do Nordeste brasileiro contempladas com as cisternas. Tudo isso pode ser comprovado na pesquisa Vox Populi realizada com 586 famílias de seis municípios nos estados de Alagoas, Pernambuco e Piauí, que contam com cisternas nas residências para captação e armazenamento de água de chuva. Nesse território vivem 22 milhões de brasileiros enfrentando graves problemas hídricos e sociais. A pesquisa, com o intervalo de confiança de 95%, é proporcional ao número de famílias que receberam cisternas.
O diagnóstico revela que os indicadores de saúde, renda, educação e desempenho escolar melhoraram, mesmo diante de um cenário devastado pela seca, a pior dos últimos 50 anos. Atualmente, 99,6% das famílias favorecidas mantêm seus filhos na escola com um aumento na performance estudantil de 68,4%. O índice de renda também melhorou, uma vez que 51% das residências beneficiadas obtiveram redução no gasto com a compra de água, resultando em um ganho mensal de R$ 100.
Dentre os favorecidos, mais de 43% passaram a tratar adequadamente a água guardada, cerca de 30% aprenderam a armazená-la corretamente e 25% começaram a economizá-la. Antes das cisternas, 89% dessas pessoas percorriam, a pé, mais de um quilômetro, pelo menos, cinco vezes por semana para conseguir água. Um trajeto diário que leva, em média, 25 minutos. Depois da instalação do material, 87% desses nordestinos não precisam mais buscar água, economizando as 5h30 semanais livres para realizar atividades remuneradas ou descansar.
Esse avanço na qualidade de vida dos contemplados com o reservatório resulta também de uma ação integrada, o Programa de Mobilização Social. Um trabalho de campo, efetuado durante 10 meses por três mobilizadores em 14 municípios do sertão e agreste alagoanos, que consiste em visitas nas casas das pessoas que possuem cisternas. “O objetivo, que tem sido alcançado, é levar educação e informação sobre o manejo adequado, o correto tratamento, a manutenção e a limpeza do material, empoderando os beneficiados de seus reservatórios e fomentando a preservação e manutenção dos mesmos”, explica Nava Soares, coordenadora do projeto de Mobilização Social pela Milênio Brasil.
O impacto socioeconômico é expressivo nas vidas dos sertanejos que não possuem alternativas de convivência com a seca e que ainda aguardam o benefício chegar. “Reservatórios como as cisternas de polietileno, resistentes e adequados às altas temperaturas da região, com manutenção de baixíssimo custo e que permitem o armazenamento de 16 mil litros de água, garantem condições para uma família de quatro a cinco pessoas se manter por até nove meses de estiagem”, afirma Ligia Bolognesi, Gerente de Relações Públicas da Acqualimp, uma das fabricantes das cisternas de polietileno entregues aos sertanejos pelo programa Água para Todos.
Dados da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, do Ministério da Integração Nacional, demonstram que o Nordeste fechou 2014 com 1.778 municípios em situação de emergência devido à seca. Pernambuco foi o quinto estado mais castigado com 247 cidades afetadas. Agora, em 2015, a região já conta com um número maior do que o relatado no ano anterior. Os documentos mostram 881 municípios brasileiros comprometidos, sendo 725 só no Nordeste. A Defesa Civil de Pernambuco revela que o estado conta com 126 cidades em situação de emergência, 70 delas no Agreste e 56 no Sertão, perdendo apenas para o Piauí, com 201 municípios, e seguido de Alagoas com 36 cidades em calamidade pública.
Por não terem como captar água de chuva adequadamente, 94% dos sertanejos que ainda não foram beneficiados consomem água altamente sujeita a contaminações, expondo-se a doenças. Este ano, o governo federal ainda não anunciou a continuidade do programa. O Norte de Minas Gerais e o Nordeste, onde se concentra a extrema pobreza, têm demanda para mais 500 mil cisternas, segundo fontes do IBGE/Censo.
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