Muitos nem o conhecem, mas José Miranda de Lima, de 61 anos, conhecido artisticamente como Rochinho, é mais uma prova de que a cidade de Riachão do Jacuípe é mesmo um celeiro de talentos musicais.
Além do forrozeiro Del Feliz, do maestro Benzinho, do guitarrista Renatinho e tantos outros nomes que começam a despontar no meio artístico local, o também jacuipense Rochinho já teve momentos de glória como zabumbeiro do Trio Sabiá, um trio que ganhou fama, gravou quatro discos e chegou a rivalizar com o famoso Trio Nordestino, mas acabou por um simples descontentamento de um dos seus integrantes durante um show em Vitória da Conquista.
Atualmente residindo na Avenida Maria Quitéria, em Feira de Santana, onde ainda atua na mesma arte e mantém um comércio de peixes no Centro de Abastecimento, Rochinho falou à nossa reportagem por telefone e contou como foi a sua passagem pelo Trio Sabiá, além de falar sobre a vida que leva atualmente. “Não estou rico, mas ganhei um dinheiro na música, mas desperdicei. Mas o culpado sou eu mesmo, não foi a música”, comentou.
A história
Cauteloso e de fala pousada, Rochinho só se soltou quando nos apresentamos e lhe informamos sobre o objetivo da nossa entrevista. ‘Nós reconhecemos que você é um artista de talento, que pertenceu e um trio famoso e, por isso, precisa ser mostrado aos que não lhe conhecem’, ponderamos.
“Muito obrigado, pode ficar à vontade. Tem um bom tempo que não vou a Riachão com frequência, tenho até vergonha de dizer isso, mas é a nossa luta diária...”, disse.
Rochinho então começa a contar como foi a criação do trio, em 1985. “Foi o Davi Cruz e Tio Joca que me convidaram para fundar o Trio Sabiá. Tio Joça tocava a sanfona, eu era o zabumbeiro e Davi Cruz batia o triangulo e cantava”, revela.
Antes de entrar para o Trio Sabiá, Rochinho já havia feito parte de outro grupo, Os Três Nordestinos. ”Foi logo que cheguei em Feira de Santana. O trio era formado por mim (Rouchinho), Zé Bezerra e Assis (ambos já mortos)”, esclarece.
O jacuipense lembra com orgulho as temporadas juninas do Trio Sabiá, que alcançou sucesso a ponto de rivalizar com o Trio Nordestino. “Nós encontramos muito com eles e Luiz Gonzaga pelas festas. Tocamos muito lá pra cima, em Juazeiro, Petrolina, Aracaju, Caruaru, Campina Grande e Feira de Santana”, conta.
Segundo Rochinho, em 1990, após um show em Vitória da Conquista, o Trio acabou. “O Davi acabou o trio por um problema no palco. Foi durante um show que nós fomos fazer para uma FM de Vitória da Conquista, ele se chateou porque o som estava ruim, reclamou ao técnico do som e foi para o camarim. Nós ainda tentamos, mas ele não mudou de opinião. Quando voltamos para Feira, ele disse que estava saindo do trio”, disse, ainda desapontado.
Mágoa
Quando narra o episódio, Rochinho não consegue disfarçar a mágoa e o desapontamento pelo fim do Trio Sabiá. E não poupa Davi Cruz pelo episódio, a quem considera “uma pessoa difícil para se conviver, diferente do Tio Joca, que era uma pessoa santa”.
Com o fim do Trio Sabiá, cada integrante seguiu o seu destino. “Tio Joca foi embora para São Paulo, mas eu preferi ficar aqui, apesar dele ter me convidado para seguir junto. Davi era daqui de Feira de Santana”, pontua, lembrando ainda que o Tio Joca era irmão de Pedro Sertanejo (pai de Osvaldinho do Acordeon), um sanfoneiro consagrado, que praticamente introduziu a sanfona em São Paulo.
Era o ano de 1990 e Rochinho, então, decidiu fundar o Trio Sertanejo junto com Davi Cruz e Ceará. O trio ainda chegou a gravar três discos, mas também já acabou.
Depois dessas experiências, Rochinho disse que não tem mais interesse de integrar outro grupo. “Quero cuidar da minha vida até o dia que Deus quiser. Me chateei com esse negócio de grupo. Hoje não se acha mais gente boa para trabalhar. Grupo, não quero mais”, reiterou.
Apesar disso, Rochinho continua tocando e disse que não pára de achar convite. “Toco assim, individual, toco direto. Mas cuido também do meu comércio de peixe”, revelou.
Origem
“Sou de Riachão, nasci na sede mesmo, filho de Manoel Cetinha. Meus irmãos (Pino, Del e Roque), todos são da música também”, detalha Rochinho, já revelando as suas origens.
“Eu comecei a tocar com Pedro de Dário e Zé Aristides. Quem me colocou no forró foi Pedro de Dário. Comecei há uns 40 anos, no inicio dos anos 70. Mas não tinha um grupo definido”, revela. “Sempre tive amor pela música”, acrescenta.
Indagado sobre qual artista mais gostava ou se inspirou na carreira, o zabumbeiro revela: “Lindú, Cobrinha e Coroné era um show no palco. Não sei se é porque era fã deles...”. E hoje? “Flávio José e Adelmário Coelho, pela voz deles e o trabalho”, respondeu.
Por Evandro Matos (Portal Interior da Bahia)
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