Quem não viu, perdeu. Quem viu, se emocionou. Mesmo com o dia já amanhecendo, o show de Chambinho do Acordeon, o jovem de 33 anos que fez o papel de Luiz Gonzaga no filme “Gonzaga: de pai pra filho”, fechou com ‘chave de ouro’ o São João de Riachão do Jacuípe.
Quem esperou até o final da festa, teve a impressão de que o Rei do Baião teria reencarnado na Praça Landulfo Alves, tal a semelhança da voz, a forma simples de se comportar no palco e a intimidade com a sanfona, como tão bem a executava o filho de Januário e Santana.
Uma pena que, quando Chambinho do Acordeon começou a tocar, muitos já tinham ido embora. Contudo, outros retornaram. De casa, mesmo sonolentas, as pessoas despertavam com aquele toque diferente na sanfona e aquela voz brejeira que entoava sobre os telhados e invadia as bibocas do sertão.
Era ele, Nivaldo Expedito de Carvalho, nascido em São Paulo, mas que, aos 7 anos de idade foi morar com a família no Piauí para beber da cultura nordestina e hoje reproduzi-la para as massas, como tanto fez o Gonzagão. E o seu vozeirão seguia ecoando pelos ares, numa sincronia quase perfeita com a sanfona. “Ê, ê, ê”, cantava e aboiava, como se quisesse hipnotizar a todos, passando-se como o Rei do Baião.
Destino iluminado
Mas a trilha gonzagueana que Chambinho do Acordeon seguia sobre o palco não era nada por vaidade ou porque buscava o sucesso fácil. Não, era muito mais por uma razão do destino, que lhe concedeu a ordem divina de seguir o trabalho daquele homem que foi o precursor do forró e que nos deixou em 1989.
Mesmo cansado com os quatro dias de cobertura da festa pela Rádio Jacuipe, o jornalista Evandro Matos resolveu acompanhar o show de perto, também por entender que ali estava, ao menos simbolicamente, a presença de Luiz Gonzaga.
Entusiasmado e conhecedor da trajetória do Rei do Baião, Evandro não se conteve e entendeu que o que estava se passando no palco era algo que os ouvintes da rádio precisavam compartilhar. Logo, fez um contato e passou a transmitir o show ao vivo. “Foi a forma que encontrei para poder passar para os outros a emoção que estava sentindo. Parece que eu via Luiz Gonzaga na minha frente, que era a reprodução de um show que tinha assistido antes”, comentou.
“É um artista completo. O que eu estou sentindo é o mesmo que você e outras pessoas que já conversaram comigo estão comentando”, disse o músico Itamar Carneiro, ao responder uma pergunta do repórter sobre a qualidade do show do artista. “Ele é um iluminado”, sintetizou uma fã à nossa reportagem, após saber da qualidade do seu show em Riachão.
No palco, percebendo a boa vontade da produção, Evandro fez um pedido em nome da emissora: “Estamos ao vivo, ser for possível, peça a ele que toque mais uma, de preferência Asa Branca”. A produtora de imediato passou a mensagem pelo teleprompter: “A rádio está ao vivo e pede para que toque mais uma...” Chambinho leu e mandou ver.
Fim do show. Mas o jornalista não se deu por satisfeito. “Ele pode falar? Podemos botá-lo ao vivo, rapidinho?”, indagou à produtora, que prontamente criou as condições para a rápida entrevista. Mas Evandro teve que aguardar um pouco, até que Chambinho cumprimentasse um a um os seus músicos, sorridente e alegre como um menino inocente do sertão.
“Queria agradecer a este povo de Riachão, que ficou aqui para acompanhar nosso trabalho. E aproveito para mandar um abraço para você que não está aqui, mas que está nos ouvindo por aí pela rádio Jacuípe”, falou o artista.
Sobre o desafio de ser o novo Luiz Gonzaga e de tê-lo representado no cinema. “Foi uma honra e uma glória para mim. Já recebi outros convites, mas eu gosto mesmo é de tocar a minha sanfoninha. Por isso quero seguir em frente. No próximo ano tem muita coisa para acontecer”, disse, quase exausto, depois de ter feito três shows naquela noite.
Da redação do Interior da Bahia
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