Provavelmente os cidadãos que não acompanham o mundo político mais de perto, e que geralmente não se interessam por ler o noticiário político, não tenham observado um fenômeno diferente acontecer nessas eleições. Ou seja, pela primeira vez houve uma tendência latente de participação das igrejas evangélicas no processo eleitoral, mais precisamente a participação massiva da camada da população evangélica votando em candidatos escolhidos ou apoiados pelas igrejas, principalmente para os parlamentos federal e estaduais.
Decerto que os especialistas do mundo político enxergaram esse fenômeno, porém poucos se manifestaram sobre o assunto até o momento. O fato é que realmente aconteceu de nessas eleições os evangélicos resolverem escolher um lado, que foi em massa votarem em parlamentares evangélicos em todo Brasil. E o que nos deixa abismados é que em quase todos os Estados da Federação os candidatos apoiados pelos grupos evangélicos foram sem sombra de dúvidas os mais votados.
Não temos nada contra a participação de religiosos no mundo político como cidadãos, mas o nosso medo é os religiosos quererem assumir discursos contra grupos sociais minoritários que vem a muitos anos lutando por direitos, ou seja, defender nos parlamentos apenas os seus valores religiosos. Nas casas legislativas o papel de cada um deve ser o de defender os interesses de todos os cidadãos para que na sociedade possa haver harmonia, apesar das diferenças culturais, religiosas e políticas. O Parlamento existe para criar de fato os acordos de convivências da sociedade diversificada.
A preocupação é latente quando observamos que alguns deputados que fazem parte da bancada evangélica defendem teses contrárias ao que o bom senso determinada numa sociedade diversificada de idéias e de opiniões, e ainda de liberdade conforme determina uma democracia. Já bastaram as teses malucas que o Pastor Marcos Feliciano (PSC) queria defender na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados quando foi seu presidente.
Não se pode deixar de observar atentamente que houve uma orquestração nessas eleições para que mais deputados evangélicos pudessem assumir mandatos na Câmara dos Deputados e nas assembleias legislativas de todo o Brasil. Esperamos que os mesmos que foram eleitos tenham consciência de que o papel dos parlamentares não deve ser somente representar seus interesses pessoais e de grupos religiosos, mas sim serem representantes de toda a sociedade, já que se elegeram através do coeficiente eleitoral formado por votos das mais variadas correntes de pensamento existentes.
Se não for assim, o futuro pode nos reservar conflitos sociais sérios, porque vivemos na diversidade, pela diversidade e para a diversidade.
Por Genaldo de Melo
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