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sábado, 23 de agosto de 2014

Recordar é viver

O "Jornal Nacional" em 1989 (Foto: reprodução/Memória Globo)
No pé da home do site Memória Globo há uma seção curiosa. Chama-se "Erros e acusações falsas" e faz um exercício nada comum às emissoras e seus sites: o mea culpa com pitadas de sal nas feridas. Conferir a seção é, no mínimo, um bom exercício de história.
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Lançado em 2008, o portal Memória Globo traz uma série de entrevistas e retrospectivas cujo intuito é criar um amplo painel sobre a história da emissora. Poderia se limitar a fazer essa coletânea memorialística e ser apenas uma biblioteca e videoteca virtual, mas a decisão de mostrar o lado não tão bonito da história é admirável. Mesmo quando, em suas explicações sobre os polêmicos momentos, a Globo não seja tão convincente quanto gostaria.
Por outro lado, deve-se louvar a coragem em assumir posições que sempre causaram desconforto nos envolvidos. A parte dedicada às "acusações falsas", por exemplo, toca em temas incômodos. A saber:
Concessões de Canais - A Globo sempre foi acusada de ter sido beneficiada pelos governos militares, embora sua concessão seja anterior ao Golpe de 1964.
Caso Time-Life - Em 1965 o então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, denunciou uma suposta relação ilegal entre a emissora carioca e o grupo de mídia norte-americano.
Proconsult - O famoso caso da empresa que teria manipulado a apuração dos votos para governador do Rio de Janeiro, em 1982. A Globo foi acusada de ter envolvimento no ocorrido.
BNDES e Renegociação da Dívida - A emissora teria sido beneficiada pelo banco federal.
Queda do Avião da Gol - Em 2006 a Globo foi acusada de dar mais atenção ao caso dos "Aloprados" do PT, que tentavam comprar um dossiê contra José Serra, do que para a queda do Boeing com 154 pessoas.
Caso da Bolinha de Papel - Em 2010 a emissora é acusada de manipular um incidente envolvendo José Serra e correligionários do PT, que teriam atingido o candidato tucano com um rolo de fita adesiva (ou bolinha de papel, a depender da versão).
Não vamos entrar em detalhes sobre as defesas da emissora, que você pode ler - e assistir - no site. Interessa constatar que há momentos de rara coragem, como o do tópico "concessões de canais". O texto reconhece a simpatia do patrono Roberto Marinho pelo Golpe Militar e acrescenta: "Depois de instaurado o primeiro governo, alguns periódicos passaram para a oposição. Roberto Marinho seguiu dando apoio aos militares. Ele acreditava na vocação democrática do presidente Castello Branco e na eficácia da política econômica desenvolvida por Roberto Campos e Octavio Gouvêa de Bulhões".
Há outros momentos em que a empresa, óbvio, tenta livrar sua cara sem muito sucesso, como noepisódio sobre as Diretas de 1984. Está no bloco "erros". Em "erros", aliás, também está o momento mais interessante da seção. É o que aborda a edição mostrada no "Jornal Nacional" do debate Collor x Lula, em 1989.
O episódio, que ficou famoso no meio político e jornalístico: depois do último debate entre os presidenciáveis Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno das eleições de 1989, a Globo levou ao ar, durante o "Jornal Nacional", uma edição de "melhores momentos"totalmente favorável a Collor.
Na página da Memória Globo alega-se que a ideia era mostrar quem realmente havia vencido o debate - no caso, Fernando Collor. Mas o mais interessante é ver os depoimentos linkados no pé da página.
Ali, dois dos acusados da manipulação, Alberico de Souza Cruz e Ronald de Carvalho, são confrontados com outros três personagens do episódio: Armando Nogueira, Wianey Pinheiro e Octavio Tostes. O trio é unânime em declarar que houve, sim, uma edição manipulada. Tudo isso está gravado em vídeo, com um Armando Nogueira bastante contrariado e Tostes um tanto ressentido.
Rever esses momentos não é apenas escarafunchar o passado da Globo, mas também relembrar como a nossa história foi construída nas últimas décadas. Só por isso o Memória Globo já merece parabéns.
Do Yahoo - Por  | Tela Plena

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