O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um homem muito experiente. Sua vivência é sem igual. Passou por terríveis dificuldades, sua formação cultural é mínima, mesmo assim conseguiu se transformar num dos mais importantes líderes políticos do Brasil.
Seu prestígio no Brasil (e no exterior) é tamanho que ele se diverte elegendo quem bem entende. Em 2010, lançou à Presidência o nome de Dilma Rousseff, que jamais havia disputado eleição. Dois anos depois, fez o mesmo com outro poste, Fernando Haddad, colocando-o com facilidade na prefeitura da maior cidade do país, com o terceiro orçamento da República.
Lula elegeu Dilma e jamais lhe passou pela cabeça que o poste pudesse criar raízes e desafiá-lo na luta pelo poder. Quando a indicou (ou melhor, impôs o nome dela ao PT), Lula achava que estava implícito um acordo entre os dois. Dilma ficaria quatro anos e devolveria a Presidência a ele. Nada mais justo, acreditava que Dilma lhe seria eternamente agradecida. Mas o tempo passa…
Ambição e ingratidão…
A vida é dinâmica, a ambição humana não tem limites; a ingratidão, também. Lula ficou doente, Dilma se animou, era um bom motivo para pleitear a reeleição. Mas Lula se recuperou, voltou a fazer política, começou a discursar normalmente. Está curado. E passou incólume pela grave crise do mensalão.
Em público, Lula diz que Dilma é a candidata do PT, mas também fala claramente que pode voltar à Presidência, se houver necessidade. Diante disso, Dilma ficou insegura, não confia nele. Sabe que a sedução do poder é irresistível, Lula quer voltar ao Planalto/Alvorada e o PT lhe obedece cegamente. Os dois então começaram a se desentender.
Em novembro, surgiu o caso Rosemary Noronha, no bojo da Operação Porto Seguro, desfechada pela Polícia Federal “sem conhecimento” do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que estava pegando sol em Fortaleza, vejam que coincidência.
Versões e fatos
Logo surgiram versões de que a Operação da Polícia Federal teria partido diretamente da Presidência da República. Se é verdade ou não, isso não tem mais importância.
O fato concreto, indesmentível e irrefutável, é que recentemente o Planalto armou uma impressionante investida para destruir Rosemary, usando a Comissão de Ética da Presidência a Controladoria Geral da União e até o Itamaraty. Mas por que destruir Rosemary? Por que afrontar Lula tão diretamente? Respondam.
Detalhe importantíssimo; esta é a primeira vez, desde que assumiu o poder, que Dilma Rousseff é severa contra a corrupção, perseguindo um peixe miúdo, depois de deixar tantos peixes graúdos escaparem, como os ministros Antonio Palocci, Orlando Silva, Alfredo Nascimento, Pedro Novaes, Mário Negromonte, Carlos Lupi e Wagner Rossi. Todos eles, altamente corruptos, operando na casa dos bilhões, só foram demitidos pela pressão da imprensa e da opinião pública.
Outro detalhe: Dilma até hoje protege o ainda ministro Fernando Pimentel, que fez tráfico de influência e levou R$ 1 milhão da Federação das Indústrias de Minas Gerais, tudo na maior desfaçatez, mas o Planalto insiste em desconhecer a realidade e o mantém no cargo, como se fosse um cidadão acima de qualquer suspeita.
Com todos esses megacorruptos, Dilma Rousseff e o Planalto foram compreensivos, condescendentes e conciliadores, mas com Rosemary Noronha, não. O próprio Planalto manda devassar a vida dela e depois vaza as informações à imprensa, querendo destruir Rosemary (mas na verdade querendo impedir que Lula volte a se candidatar).
O que está acontecendo é apenas isso – uma briga pelo poder, travada entre os dois candidatos de um mesmo partido.
Por Carlos Newton – da Tribuna da Imprensa
Nenhum comentário:
Postar um comentário