Foto: Reprodução / Veja Saúde
Em estudo publicado nesta quarta-feira (7) no The British Medical Journal, referência mundial em pesquisas na área da saúde, pesquisadores franceses indicam uma associação entre consumo de adoçantes e maior risco de problemas cardiovasculares como infarto e derrame.
"Nossos achados indicam que esses aditivos alimentares, consumidos diariamente por milhões de pessoas e presentes em milhares de alimentos e bebidas, não devem ser considerados uma alternativa saudável e segura ao açúcar, em linha com a posição atual de várias agências de saúde", afirmam os cientistas no texto.
Em março deste ano, o mesmo grupo, com membros de instituições como a Universidade Sorbonne Paris Norte e a Universidade de Paris, já havia indicado uma relação entre adoçantes e aumento do risco de câncer.
Pouco depois, em 12 de abril, a OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou uma revisão sistemática sobre o uso de adoçantes na dieta de crianças e adultos e, em julho, lançou uma consulta pública para a definição de diretrizes sobre o consumo das substâncias. O atual guia da entidade sobre a ingestão de açúcar, relacionada a questões de saúde pública como obesidade, data de 2015.
Para analisar os efeitos dos adoçantes no sistema cardiovascular, o grupo utilizou as informações de 103.388 voluntários de uma iniciativa lançada na França em maio de 2009 para investigar em larga escala a relação entre nutrição e saúde.
Os participantes responderam diversos questionários ao longo dos anos e periodicamente deram informações detalhadas sobre sua alimentação. De início, eles indicaram todos os alimentos e bebidas consumidos em dois dias da semana e um dia de fim de semana, especificando quantidades. Essa tarefa se repetiu a cada seis meses e os pesquisadores consideraram os dois primeiros anos de registros alimentares para estabelecer a dieta padrão dos indivíduos.
O segundo passo foi calcular a quantidade de adoçante nos alimentos e bebidas consumidos e detectar os tipos de aditivos mais utilizados. Aspartame (57,9%), acessulfame de potássio (29,2%) e sucralose (10,1%) foram as variedades mais presentes, enquanto bebidas adoçadas (52,5%), adoçantes de mesa (30,2%) e produtos adoçados artificialmente (8,2%), como iogurtes e queijo cottage, foram as principais fontes citadas.
A partir da dieta, os cientistas identificaram que 37,1% dos participantes consumiam adoçantes artificiais e que a média de consumo dessas substâncias nesse grupo era de 42,46 mg por dia, o equivalente a um sachê de adoçante ou a 100 mL de refrigerante diet.
Em seguida, os cientistas verificaram a ocorrência de eventos cardiovasculares entre os participantes nos nove anos seguintes e analisaram se havia maior incidência entre os consumidores de adoçantes. Ao todo, foram registrados 1.502 ocorrências, sendo 730 relacionadas a problemas coronarianos, como infarto do miocárdio e angioplastia, e 777 a episódios cerebrovasculares (acidente vascular cerebral e ataque isquêmico transitório).
Eles aferiram um risco relativo 1,09 vez maior de doenças cardiovasculares em geral e de 1,18 para doenças cerebrovasculares entre quem os consumidores de adoçantes. O aspartame foi associado a maior risco de eventos cerebrovasculares (1,17), ao passo que o acessulfame de potássio e a sucralose elevaram para 1,40 vez e 1,31 vez, respectivamente, o risco de doenças coronarianas.
Para o grupo de cientistas, os achados reforçam os resultados de pesquisas anteriores e ampliam a compreensão sobre os efeitos dos adoçantes considerando a dieta completa, não apenas bebidas, porém ainda são necessários mais estudos para estabelecer a relação causal e garantir que os resultados não foram afetados por outras variáveis, como estilo de vida.
Os pesquisadores também ressaltam que, em sua maioria, os participantes da iniciativa são mulheres francesas com nível educacional e social elevado, o que possivelmente contribui para hábitos de alimentação mais saudáveis. Assim, o consumo de adoçantes por adultos em geral pode ser maior do que o encontrado entre o grupo de voluntários e, consequentemente, o risco pode estar subestimado.
"Enquanto isso [outras pesquisas não são realizadas], este estudo fornece insights fundamentais no contexto de reavaliação do adoçante artificial pela EFSA [Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos], OMS e outras agências de saúde em todo o mundo", concluem os autores.
Do Portal Bahia Notícias/por Stefhanie Piovezan | Folhapress
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