A dona de casa Eliana Fátima Souza, de 46 anos, fez faculdade de psicologia para ajudar o filho com deficiência e se formou junto com ele, em Anápolis, a 55 km de Goiânia. Ela conta que Hiury Ariel de Souza, de 24 anos, é deficiente visual e físico, ao ter nascido com microcefalia e mielomeningocele. Para a mãe, mais do que felicidade, terem terminado a graduação juntos é sinônimo de superação.
“É uma superação. Eu fiz a faculdade com ele para dar apoio, mas foi iniciativa dele”, explica a mãe.
Eliana e Hiury moram em Vianópolis, 79 km de Anápolis, cidade onde estudaram, e se formaram no último dia 31 de agosto. Apesar de Hiury ter tomado a iniciativa de ingressar na faculdade, a mãe não esconde que cursar a graduação de Psicologia se trata de um sonho antigo, que acabou sendo interrompido pela necessidade de trancar a graduação. Isso, porque ela chegou a ingressar no curso em 2010, mas só conseguiu estudar três semestres.
Hiury, inclusive, inicialmente pensava em cursar Direito, mas acabou mudando de ideia sobre qual faculdade cursar enquanto ainda estava no Ensino Médio. Quando ele mencionou o interesse em fazer o curso de Psicologia, ela prontamente disse que faria o curso junto com ele, o que deixou Hiury empolgado.
“Foi muito importante o apoio dela. Eu tenho algumas limitações, então acho que sozinho eu não conseguiria. Sou muito grato a ela”, disse Hiury.
Segundo Eliana, Hiury sempre foi um ótimo aluno. Com orgulho, ela conta que, inclusive, as notas dele eram quase sempre maiores que as dela.
“Para ele, tirar 9 não era suficiente. Tinha que ser 10”, relembra.
Quando iniciaram a faculdade, pelo receio da adaptação, Eliana conta que chegou a conversar com a faculdade fazer um teste de 15 dias, para ver se o filho se adaptaria e gostaria da nova rotina. Isso, porque para conseguirem estudar, eles precisavam enfrentar uma viagem diária de quatro horas para conseguirem ir e voltar da faculdade, que era localizada em Anápolis.
Essa distância, para Eliana, foi um dos grandes obstáculos que ela e o filho precisaram enfrentar durante a graduação.
“Estudávamos a noite, foram mais de três anos indo e voltando, já que os dois últimos anos foram online. Saíamos às 17h e chegávamos em casa meia noite”, narra.
Ela conta, inclusive, que chegou a cogitar a se mudar para Anápolis, para facilitar sua rotina e a do filho, mas como o marido possui uma barbearia em Vianópolis, ele teria que permanecer na cidade. Eliana relata que Hiury não gostou da ideia de a família ser “separada” e eles continuaram na jornada diária para ir e voltar de uma cidade para a outra.
Além da distância, a pandemia também foi um fator crítico nesse processo. Eliana lembra que foi o único momento da graduação em que o filho se frustrou, já que gostava de ir para a faculdade.
“Ele entrou em depressão e queria parar a faculdade, mas eu não deixei. Continuamos juntos. Companheiro é companheiro”, lembrou.
Durante todo esse processo, Eliana explica a importância do apoio da família, dos colegas da faculdade e até dos motoristas de ônibus que a ajudavam.
Superação
A trajetória até a graduação, segundo Eliana, não foi fácil para Hiury. Ela conta que, ao ter nascido com microcefalia e mielomeningocele, doenças que causam acúmulo de líquido nas cavidades internas do cérebro e defeitos na coluna vertebral e na medula espinhal, com apenas um dia de vida ele já fez duas cirurgias. Além disso, chegou a passar cerca de 14 dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), enquanto ainda era recém-nascido.
“Os médicos diziam que ele não iria sobreviver, mas eu nunca me abalei. Sempre tive fé”, explica Eliana.
Ao longo da vida, ela conta que ele passou por um total de oito procedimentos cirúrgicos. Eliana ainda acrescenta que ele perdeu a visão aos 8 anos de idade, devido a um erro médico.
No entanto, nenhum dos obstáculos, nem mesmo a limitação física, impediram que Hiury e Eliana realizassem seus sonhos e permanecessem sonhando os próximos passos a serem dados na carreira. Com a formatura, ambos comemoram estarem montando o próprio consultório juntos para iniciarem atendimentos psicológicos. Hiury ainda planeja fazer uma pós-graduação em psicologia esportiva.
Do Portal NS/Fonte:g1 Goiás
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