RFI – A cientista Fernanda Checchinato desenvolveu um sabonete
bactericida que protege contra o novo coronavírus e permanece ativo na
pele durante horas. A startup fundada pela engenheira química, que fez parte do
doutorado na França, também produz e comercializa um spray para higienizar
máscaras em tecido.
A diferença entre o “super-sabonete” e outros antissépticos presentes no
mercado é o princípio ativo clorexidina, explica Fernanda. O ativo, já bastante
conhecido e utilizado na área hospitalar, tem uma ação residual que permite que
a proteção antiviral e bactericida dure mais tempo.
“O que eu fiz foi desenvolver uma fórmula de sabão que não agredisse a
pele, que realmente lavasse a sujeira do corpo, porque esse é o objetivo de um
sabonete, que tivesse perfume agradável e que fosse bactericida. Então, para
dar o efeito de assepsia, adicionei a clorexidina”, explica. Segundo ela,
este é o primeiro produto de higiene pessoal no mundo que usa o composto.
“Isso significa que se você tomar banho com o sabonete ou lavar as mãos,
ele mata vírus e bactérias no ato. Mas se uma hora depois você encostar em uma
maçaneta contaminada, você não vai ser infectado, porque ele fica na epiderme e
continua fazendo efeito, matando as bactérias ou vírus por até 6 horas”,
completa.
O sabonete também tem uma coloração verde que permite visualizar áreas
da pele que não foram devidamente lavadas.
A clorexidina é muito utilizada em hospitais e em consultórios de
dentistas para higienizar a pele antes de cirurgias. “Qualquer micro-organismo
que esteja no ar e encostar na área tratada com o produto morre, seja bactéria,
fungo ou vírus, evitando a contaminação hospitalar”, explica Checchinato. “É um
mecanismo do próprio ativo”.
Fernanda é CEO e fundadora da startup de alta tecnologia Aya Tech, que
desenvolve e comercializa o produto. O sabonete líquido que recebeu o nome de
Gy, como o apelido da filha de Fernanda, que se chama Giovana, também tem em
sua fórmula óleos essenciais de menta e de melaleuca – árvore muito comum na
Austrália, que tem propriedades antibióticas, bactericidas e fungicidas.
Higienização de tecidos
Outro produto desenvolvido pela startup de Fernanda é um aerosol que
pode ser aplicado para higienizar máscaras de pano, usadas como proteção
contra a Covid-19. O spray Microbac, em princípio criado para
impedir o desenvolvimento de fungos e bactérias em tecidos e ajudar pessoas
alérgicas, acabou também se mostrando útil contra o coronavírus.
“Quando aplicado na roupa, principalmente na máscara, ainda que a pessoa
entre em contato com bactérias e vírus, os tecidos não vão se contaminar”,
explica a cientista. “Porque tem uma substância química que cria uma camada de
milhões de nanopartículas desinfetantes. Quando os microrganismos encostam no
tecido, eles morrem, ficam inativos”, explica. Segundo ela, o spray elimina 99%
das bactérias e vírus e a proteção pode durar até dois meses, se a peça não for
lavada.
Além do sabonete e do desinfetante de tecidos, a startup desenvolveu um
gel e um spray antissépticos sem álcool com os mesmos princípios ativos do
Gy. Eles foram criados no ano passado, pensando em pessoas de pele
sensível, como crianças e idosos, para evitar os vírus H1N1 e influenza, causadores
da gripe. “É a primeira linha de antissépticos sem álcool no mundo”,
explica a cientista que recebeu a liberação da Anvisa para comercializar os
produtos em fevereiro, exatamente quando os primeiros casos de Covid-19
surgiram no Brasil. “Foi uma coincidência”, diz.
Já o “super-sabonete”, foi desenvolvido pensando no SARS-Cov-02. “As
pessoas falavam, ‘a gente toma banho, sai na rua e quando volta tem que tomar
banho de novo’. Comecei então a trabalhar e a pensar nele em abril e ficou
pronto agora”, diz Fernanda sobre o produto que começou a ser vendido na semana
passada.
Cientista empreendedora
A Aya-tech foi a primeira empresa brasileira a ser selecionada para
participar, em 2018, de um programa de aceleração de startups promovido pela
Agência de desenvolvimento e inovação da Grande Paris, a Paris Co, que trabalha
com 500 empresas francesas e estrangeiras por ano.
O programa durou um mês, mas a história de Fernanda com a França começou
antes. Formada em engenharia química pela Universidade Federal de Santa
Catarina, ela fez parte de seu doutorado no centro de Química, Física e
Eletrônica (CPE), da Universidade de Lyon, que faz parte do Centro Nacional de
Pesquisa Científica da França (CNRS). Na época, ela desenvolvia estudos
sobre plásticos bactericidas para alimentos.
Ao votar para o Brasil, por falta de opção de bolsas para pós-doutorado
e sem previsão sobre abertura de concurso para professor na universidade,
Fernanda começou a trabalhar como pesquisadora em uma metalúrgica que fazia
eletrodomésticos e iscas para pesca.
“Mas era uma empresa machista, eu era a única mulher chefe de setor e
sofri horrores de boicote. Aí resolvi pedir demissão e montar a Aya”, conta a
cientista empreendedora. “Na época, nem existia o conceito de startup. Mas fiz
com tudo muito enxuto e deu certo.”
Fernanda diz que não tem investidores nem sócios, e que desenvolve os
produtos com capital próprio. De acordo com ela, por isso o processo de
lançamento é mais demorado. “Precisamos que um produto nosso venda para gerar
capital para desenvolver um produto novo. Avançamos com passos de formiga, mas
também não temos dívidas. Estamos crescendo organicamente”, acrescenta, sem
esconder o desejo de internacionalizar sua produção.
Do Portal Gazeta Brasil
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