Lá de baixo até impor respeito na
Série A. A trajetória do Avaí neste Campeonato Brasileiro combina bem com a de
dois jogadores que defendem o escudo do clube. Alemão e Capa saíram das
profundezas do futebol de Santa Catarina para a liderança do returno da
competição. Dos times da Segundona do Catarinense à escala na Série B antes de
alcançarem a elite.
Há dois anos ocupavam as laterais do Atlético de Ibirama. Alemão
já tinha passado por Videira, Inter de Lages e Juventus, quando encontrou Capa,
que havia vestido as camisas do Marcílio Dias e Guarani de Palhoça. Estar no
Avaí é uma vitória muito particular para cada um. Porém, há muito Brasileirão
pela frente e por isso mais triunfos a serem conquistados por eles.
— Sempre vou querer algo a mais, não pode haver limite. Estava com
meus familiares e meu irmão perguntou se há cinco anos, quando eu estava no
Inter de Lages poderia imaginar disputar uma Série A. Ninguém imaginava, mas
como consegui chegar até aqui, posso algo mais — relata Alemão, em palavras que
refletem a personalidade em campo.
Não muito diferente do companheiro, Capa lembra bem do que passou.
Por este motivo, não se acomoda, porque foi dando tudo que podia dentro de
campo que chegou ao Avaí. Mudou o clube, mas há mais por vir.
— Foi dolorido chegar até aqui. Roí osso e pedra, roía o que
tinha, o que encontrei pelo caminho. São coisas que a gente usa para crescer –
garante o lateral-esquerdo, sétimo do Brasileirão em desarmes.
Alemão até sentiu o cheiro da Série A ao compor o elenco da
Chapecoense em 2014, quando a maior competição de futebol do Brasil era um
sonho para Capa, que entrou em Santa Catarina ao passar em um teste da base do
Marcílio Dias. Alcançar a elite nacional exige mais do que o empregado até
agora. O lateral-esquerdo, por exemplo, teve de mudar sua forma de jogar. As
arrancadas até o fundo de campo, que foram o passaporte do Guarani de Palhoça à
Ressacada, no ano passado, foram reduzidas, e a marcação, fortalecida.
— Na Série B, a gente arrisca com margem de erro maior. Na A, é
complicado você subir. O professor pede para marcar primeiro e subir na boa,
ser eficiente quando subir, para gerar o gol. Tive de me adaptar. Estou
marcando mais e atacando com mais qualidade.
Junior Dutra
foi autor de três dos quatro gols do Avaí líder do returno, mas é autor deles e
não o protagonista. O futebol coletivo marca o Avaí que prioriza marcar antes
de chegar ao ataque. Dutra e os outros homens que jogam à frente de Alemão e
Capa são providenciais para que os tempos de campos ruins e incertezas sejam
apenas uma lembrança dos tempos em que zagueiro e lateral se conheceram.
— Nosso grupo
não tem vaidade. Tomamos poucos gols porque os nossos atacantes... – explicava
Alemão
— Os atacantes
marcam até mais que nós – agrega Capa, mostrando entrosamento até fora de campo.
— Eles correm
mais, marcam mais. Quando a bola vem, temos mais que rebater. Nossos meias e
atacantes vêm até o final, sem vaidade nenhuma. Nosso grupo é empenhado, sabe o
que quer. Sabe que o objetivo é não cair. Somente quando atingir 45 pontos pode
pensar em algo maior – completou Alemão.
Neste domingo,
às 11h, na Ressacada o Avaí busca a vitória sobre o Atlético-MG para que faltem
14 pontos para o objetivo, três a menos que os 17 atuais.
Leia a seguir a íntegra da entrevista com Alemão e Capa
Vocês jogaram juntos no Atlético de Ibirama em 2015?
Alemão: Sim, e no mesmo ano no Operário-PR. Cheguei antes. O Itamar (Schulle) era o treinador e ele queria um lateral-esquerdo, entre eles estava o Capa. Eu até falei para levar o Capa, que iria ajudar.
Capa: E aqui (no Avaí) cheguei um mês depois.
Alemão: No dia que tu (Capa) acertou para vir, nós dois estávamos no Rio, na sala do (empresário Eduardo) Uram. E perguntaram pra mim. Disse de novo que podia levar porque iria ajudar.
Capa: Vim de contrapeso dele (risos). Se contrata tem que botar eu junto (mais risos).
Alemão: Quero ver quando ele for para a seleção, se vai lembrar do Alemão.
Capa: Vai enganchado. Vou colocar na mala.
Alemão: Sim, e no mesmo ano no Operário-PR. Cheguei antes. O Itamar (Schulle) era o treinador e ele queria um lateral-esquerdo, entre eles estava o Capa. Eu até falei para levar o Capa, que iria ajudar.
Capa: E aqui (no Avaí) cheguei um mês depois.
Alemão: No dia que tu (Capa) acertou para vir, nós dois estávamos no Rio, na sala do (empresário Eduardo) Uram. E perguntaram pra mim. Disse de novo que podia levar porque iria ajudar.
Capa: Vim de contrapeso dele (risos). Se contrata tem que botar eu junto (mais risos).
Alemão: Quero ver quando ele for para a seleção, se vai lembrar do Alemão.
Capa: Vai enganchado. Vou colocar na mala.
Como foi jogarem juntos há mais de dois anos?
Alemão: Eu jogava de lateral e até
de atacante.
Capa: Joguei
de atacante, volante, lateral. Era coringa, no Operário.
Essa amizade entre vocês vem desta época?
Capa: A gente já se conhecia de
jogar contra. A amizade, convívio, foi no Ibirama. Morávamos juntos, na mesma
casa.
Alemão: Morava
em 15 na mesma casa, quase uma república.
Alemão, na Chapecoense em 2014 você sentiu o cheiro da Série A.
Alemão: Cheguei para ir pro banco,
e tive de fazer uma cirurgia. fiquei até novembro parado e fui liberado. Voltei
ao Ibirama.
Capa: Eu
nem senti o cheiro, só aqui (no Avaí).
Jogar em clubes de outras divisões ou que disputam apenas os
estaduais moldou a carreira e também a postura de jogo de vocês.
Alemão: Você jogar em Lages ou
Videira tem contrato de dois ou três meses e depois fica quase meio ano parado
para arrumar um outro time. E você luta por algo a mais para pelo menos não
voltar, porque você sabe como é estar lá embaixo. Quando se está em um nível acima,
você quer no mínimo manter ou estar mais no alto. Eu comento com os meninos que
sobem da base para que aproveitem a oportunidade, em um clube grande. Tem
menino que vai emprestado jogar a Série B do Catarinense e não está nem
jogando, e treinava conosco no profissional. Falo para que deem a vida nos
treinos para não sair. Se vai para um outro time, que aproveite a projeção,
então. O cara que nasceu em berço de ouro não sabe como é ficar pobre, vai
sofrer muito mais do que o cara que era pobre e ficou rico.
E você. Capa?
Capa: Passei a mesma coisa
que o Alemão, mas ele ainda chegou perto da Série A. Essa é a primeira vez que
eu chego, e foi dolorido. Roí osso, pedra, tudo que encontrei pelo caminho. O
que tinha para roer, roía. Depois as coisas foram dar certo. São coisas que a
gente usa para crescer. Jogar a Série A é diferente. A gente via os jogadores
na televisão e até imaginava estar do lado, marcar esses caras. E ficava se
perguntando: será?
Você é baiano (do município de Serrinha). Como apareceu tão
jovem em Santa Catarina?
Capa: Meu primo jogava no Marcílio Dias e me trouxe para fazer um teste na base. Fiz o teste, joguei no júnior e subi ao profissional.
Capa: Meu primo jogava no Marcílio Dias e me trouxe para fazer um teste na base. Fiz o teste, joguei no júnior e subi ao profissional.
Então o Alemão foi seu "primo"?
Capa: Teve o primo da base
e o Alemão é o primo do profissional (risos).
Como foi a adaptação à Série A, uma exigência diferente e nova
para vocês neste ano?
Alemão: A Série B é mais
pauleira. Na A é diferente, mas você encontra dificuldades maiores em uma ou
outra. Na A tem mais espaço, mas não pode dar brecha. Na B o time pode ir cinco
vezes no gol e não fazer, e na A só precisa de uma. Não tem nem comparação o
quão bom é jogar a Série A, qualquer jogador de futebol do país quer estar. A
motivação é maior, não precisa buscar motivação. Você jogar um Videira x Porto
União tem que buscar motivação para jogar uma partida dessas, mas um Avaí x
Flamengo não tem porque procurar, já te motiva naturalmente. É entrar e jogar e
dar o algo a mais. De sair lá de baixo já é uma vitória. Não tem nem
explicação.
Capa, você teve de mudar um pouco do seu jogo na Série A.
Capa: Na Série B a gente arrisca
com margem de erro maior. Na A é complicado. O professor pede para marcar
primeiro e subir na boa, ser eficiente quando subir, para gerar o gol. Tive de
aprender isso, me adaptar. Estou marcando mais e atacando com mais
qualidade. Na Série A tem que estar com fôlego para marcar e atacar, mudou a
característica de jogar.
O comprometimento é a marca desse Avaí?
Alemão: A diferença é que
nosso grupo não tem vaidade. Foi assim no ano passado, e quem chegou tem esse
mesmo espírito. No ano passado tinha salário atrasado, todo mundo dizendo que
era o pior time da história do clube, e conseguimos arrancada e o vice. Os
jogadores que vieram para este ano têm a mesma característica, se doam muito.
O fato de tomar pouco gol é porque os nossos atacantes...
Capa: ...Mas
os atacantes marcam até mais que nós.
Alemão: Eles
correm mais, marcam mais. Quando vem a bola, a gente tem que rebater. Isso
facilita muito para nós. Nossos meias e atacantes vem até o final, sem vaidade
nenhuma. Nosso grupo é empenhado, sabe o que quer. Sabe que o objetivo é não
cair. Somente ao atingir em 45 pontos, pode pensar em algo maior. O Claudinei
(Oliveira, técnico) colocou isso na cabeça de todo mundo. Todos sabem o que tem
de ser feito dentro de campo.
Vocês que passaram pelas profundezas do futebol de Santa
Catarina, disputar a Série A é como um prêmio?
Alemão: Sem dúvida alguma. Não
acho que sou realizado porque sempre vou querer algo mais na vida, não pode se
acomodar, não pode haver limite. Falava na folga com meus familiares e meu
irmão, que tentou ser jogador e não conseguiu, falou: "Fag, há cinco anos,
quando estava no Inter de Lages, se falasse que hoje estaria na Série A,
capitão como foi contra o São paulo, quem daqui acreditaria?" Ninguém! Me
sinto realizado, mas do jeito que consegui chegar aqui, posso conseguir algo a
mais. Vou jogar, trabalhar para crescer na vida.
E você, Capa?
Capa: Para mim ainda é um começo
e um prêmio. Todo jogador sonha em jogar uma Série A. Nunca podemos parar,
também, tem que querer mais. Mas de estar ali, sou da Bahia, bem longe, estar
todo mundo de lá me assistindo pela televisão já é gratificante. É um prêmio
que não sabemos expressar quão grande é.
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Do Portal dc.clicrbs/Fotos: Leo Munhoz / Diário Catarinense
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