BRASÍLIA (Reuters) - Menos de
dois dias após a decisão do PMDB de desembarcar do governo da presidente Dilma
Rousseff, as disputas internas do partido começaram a vir à tona nesta
quinta-feira, especialmente no momento em que peemedebistas começam a perder
seus cargos no segundo e terceiro escalões do governo e ministros do partido
brigam para permanecer em seus postos.
O presidente
do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), classificou, em entrevista, de “pouco
inteligente” e precipitada a decisão do partido de sair do governo neste
momento. “Evidente que isso precipitou reações em todas as órbitas. No PMDB, no
governo, nos partidos da sustentação, nos partidos da oposição. O que significa
dizer em bom português que não foi um bom movimento, um movimento inteligente”,
disse o senador.
A aceleração
do processo de desembarque irritou o PMDB do Senado. Durante a convenção do
partido, em 12 de março, foi tomada a decisão de apreciar as moções pelo
rompimento em um encontro do diretório nacional da legenda em 30 dias.
Renan, outros
senadores peemedebistas e os ministros tentaram convencer o vice-presidente
Michel Temer --também presidente do partido-- de marcar a reunião para 12 de
abril. Temer, no entanto, escudado em um grupo de 30 deputados que pressionavam
a Executiva, manteve a reunião para a última terça-feira.
Nenhum dos
ministros, a maior parte dos senadores e alguns deputados nem mesmo
participaram do encontro que selou o rompimento e durou apenas três minutos.
Uma fonte de alto escalão no partido havia assegurado à Reuters que já havia
votos suficientes para aprovar o desembarque. A decisão de fazê-lo por aclamação
teria sido para evitar desgastes.
Fontes ligadas
ao alguns dos ministros do partido, no entanto, avaliaram que a rapidez no
processo foi para esconder que o PMDB continua dividido.
Segundo um
importante parlamentar peemedebista, que falou sob a condição de anonimato, a
maneira como foi tomada a decisão do rompimento, “mais até do que seu mérito”,
causou desconforto para algumas pessoas dentro do partido.
“Não houve uma
discussão ampla. A decisão foi tomada por algumas pessoas da cúpula do partido
e anunciada naquela rápida reunião na terça-feira”, disse.Segundo essa fonte,
mesmo entre aqueles que defendem o desembarque do governo Dilma, houve quem
questionasse a maneira como o processo foi conduzido no partido.
Renan defende
que o PMDB mostrou uma “unidade férrea” em concordar com a chapa única que
reelegeu Michel Temer presidente e que pode “construir uma unidade na
adversidade”.
De acordo com
uma fonte do governo, o Palácio do Planalto aproveita esse momento ainda de
disputa interna no PMDB para tentar conseguir assegurar alguns votos no partido
– conversa que está a cargo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E
também usa os cargos que o partido perdeu para tentar obter no varejo apoios
necessários para evitar o impeachment.
Nesta
quinta-feira, a presidente iniciou o processo de demissão de centenas de
peemedebistas que ocupam cargos de segundo e terceiro escalões no governo.
Entre eles, o diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Rogério
Luiz Abdalla, que foi indicado pela bancada do PMDB no Senado, mas teria também
ligações com Temer, e Walter Gomes de Sousa o diretor-geral do Departamento de
Obras contra a Seca (Dnocs), indicado pelo ex-ministro do Turismo, Henrique
Eduardo Alves.
Houve ainda
demissões de postos nas superintendências regionais de alguns ministérios, como
a Agricultura, que eram ocupados por peemedebistas.
Em mais uma
sinalização das divisões internas no PMDB após a decisão de romper com o
governo, a ministra da Agricultura, a peemedebista Kátia Abreu, usou o site da
pasta para anunciar que recebeu convite do PR para trocar de partido.
A ministra é
próxima de Dilma e, na quarta-feira, usou sua conta no Twitter para afirmar que
seguiria no governo e no PMDB. O PR é um dos partidos que o governo busca
atrair com mais espaço dentro da Esplanada dos Ministérios na busca por votos
para barrar o pedido de impeachment da presidente na Câmara dos Deputados.
Do Yahoo/Por Lisandra Paraguassu e Leonardo Goy Reuters(Reportagem
adicional de Maria Carolina Marcello)
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