O texto é de Manoel Messias, veiculado no site ecbahia.com, onde faz uma viagem ao ano de 1988, época do bi-campeonato brasileiro conquistado pelo Bahia, junto com o zagueiro Pereira.
Um cara com jeitão meio tímido, de poucas palavras e com cabelo espalhafatoso segue o mesmo até ver algumas imagens mostradas por nossa equipe dos tempos de Bahia, para, logo em seguida, já com os olhos cheios de lágrimas fazer em seu imaginário uma viagem que lhe remetia aos anos de uma Fonte Nova lotada e de uma torcida que não deixava o Estádio sem antes descarregar seus grito de gol.
O tipo físico ainda lembra e muito o do bom zagueiro de década de 80 que chegou ao Bahia e fez dupla com o hoje, técnico, Estevão Soares. A diferença está na função, onde de bom zagueiro Pereira agora divide o cargo de Técnico de uma Escolinha de futebol com o ex-zagueiro Corintiano, Batata em Itu. O ecbahia bateu um papo com o ex-beque do BI Campeão Nacional em Salto, cidade que fica a 120 Km da Capital Paulista, a 15 de sua cidade residente. Tido com um dos principais nomes do elenco campeão Brasileiro de 1988, o ex-zagueiro, Pereira, que hoje mora em Itú-SP, onde vive com sua família e tem uma Escolinha de futebol, se derreteu ao falar do Tricolor.
Luis Carlos Pereira, hoje com 55 anos, falou com exclusividade sobre os bons times Tricolor na década de 80, não deixou passar em branco sobre o real motivo que o fez deixar o clube na semifinal do Brasileiro e disse que até hoje carrega uma frustração por não ter ficado no grupo que decidiu o título nacional. Chegou ao Bahia em 1985, onde ficou até 1988. Na campanha do título de 88, fez gols importantes como dois de faltas diante do Corinthians e do Palmeiras, ambos em São Paulo.
Em que ano você chegou ao Bahia e quem era o Técnico?
Cheguei no Bahia em 1985, e o técnico era, Paulinho de Almeida. Logo quando cheguei, fiquei 15 dias preso no Fazendão, para não cair na noite num regime de concentração adotado por ele mas sempre prezei pela minha carreira mas como era desconhecido na cidade, ele, Paulinho, achava bom concentrar e fechar o elenco. O Bahia estava numa situação difícil no campeonato lutamos muito e chegamos a ser vice campeão. Naquele ano o Vitória tinha um avante nigeriano de nome Rick que dava muito trabalho e fazia gols de tudo quanto era jeito.
Quem foi seu parceiro de zaga naquele ano?
Meu primeiro parceiro de zaga, foi Estevão Soares e foi ele quem me deu as primeiras dicas sobre a Torcida, o clube e a cidade. Aí em 86 houve uma reformulação o que é normal no futebol, saíram alguns, subiram alguns jogadores da base como, João Marcelo, Chamusca, Dico Maradona e chegaram ainda, Cláudio Adão, Zanata, Bobô, Sandro, vindos da Catuense, e o time foi ganhando corpo. Em 87 já melhorou com as chegadas de Tarantini, Paulo Robson, Paulo Rodrigues, Gil Sergipano. Em 88 nós já estávamos bem entrosados, sem vaidade, não tinha discussão e sim um elenco de muito respeito que fez um Bahia forte, todos se davam bem e quando um pegava na bola os outros já sabiam onde ela chegaria, nisso, acabou campeão Brasileiro de 88.
Você falou da base e naquela década, o Bahia tinha uma base forte e nela, uma das maiores promessas do futebol Baiano; Dico Maradona; porque ele não se tornou uma realidade?
Eu também não entendi nada. Quando cheguei, virava e mexia, ele já estava treinando com o profissional e era um Maradoninha. Porém, depois que eu saí fiquei acompanhando e vi que ele já viajava para os jogos a partir daí, pensei, agora vai em cima mas, não sei o porque ele não vingou. Não só ele, outros jogadores assim como Chamusca (não o técnico) e sim seu irmão mais novo, um volante que se destacava na base mas, foi uma coisa que não deu para entender e de longe não tinha como saber o que estava acontecendo no extra-campo ou dentro de campo mas, era um jogador com qualidade que poderia ter chegada à Seleção Brasileira.
Em 88 você praticamente jogou todos os jogos até às quartas de final e depois deixou o clube. O que aconteceu?
Então, foi uma forte polêmica naquele tempo porque eu saí quase que escondido. Não chegou ser uma briga com o Paulo Maracajá mas como eu estava com o salário bem defasado e naquele tempo o Bahia ganhava muitos jogos, a gente tinha uma premiação toda semana. Toda segunda feira, após os treinos passávamos no escritório e já estava tudo certinho era assim que a gente sobrevivia nas quinzenas. Quando classificamos que já entrava nas oitavas de finais do Brasileiro, nós fomos conversar, tentei falar com, Maracajá, dizendo que nunca tinha reivindicado nada e que queria falar sobre a premiação. Como saímos de férias, na volta, fui ao Clube e daí analisamos que poderia ter seis partidas mas se perdesse uma e ganhasse a outra, praticamente estava quase fora. Nisso, tentamos acertar por partida enquanto, Evaristo de Macedo, do lado de fora, esperava já que estava chegando a hora de treinar para jogar contra o Sport. Quando falei o valor, Maracajá quase me bateu lá dentro da sala, disse que acabaria com minha carreira e tudo mais. Ele não sabia ouvir as pessoas e tudo isso ao lado de, Orlando Aragão e daí pensei, se juntar os dois aqui vou apanhar dentro dessa sala.
Paulo Maracajá, era meio cacique?
Ele tratava as coisas assim; faça o que eu mando, acabou e cale a boca. Fiquei comendo o osso e na hora do filé tive que largar o time, mas, me considero um campeão porque participei da campanha toda. Como ele não me procurou mais, tive que deixar o Clube, mesmo com o Coração partido e triste pela forma como deixei o grupo. Ele ainda foi na Imprensa dizendo que fui eu que fiz isso, fiz aquilo porém, como eu não estava mais presente para me defender, ficou por isso mesmo. É coisa do futebol, sentimos muito na ocasião, até pensei que poderia ter sido menos egoísta mas passou e hoje somos Bahia e estou muito feliz.
Ficou uma certa frustração por não ter jogado as quatro partidas mais importante do clube?
Com certeza, isso daí quando todos perguntam, até amigos nos dias de hoje, quando vejo a história do Bahia, as vezes penso que fui eu o egoísta mas essa frustração sempre me acompanhou depois que saí do Bahia. Principalmente porque foram jogos disputados no Maracanã, Beira Rio, a gente tem isso daí. Mas bola pra frente porque somos felizes e Bahia até morrer.
Acompanha o dia- dia do clube? Com quem daquele grupo campeão de 88 você tem mais contato?
Acompanho sim, não tem como não acompanhar e hoje está mais fácil porque com tantos meios de comunicação e com as redes sociais, é possível acompanhar muita coisa. Vejo um Bahia mais organizado, com um Presidente novo e novas ideias e isso é bom para o futebol. Além de que, ao que tudo indica está fazendo um forte planejamento, vem valorizando a base e sem abrir mão da história do clube, chamando ex jogadores para fazer parte do Departamento de futebol na base. Isso nos traz muita alegria e certeza de que o clube está sendo planejado e pensando como time grande. Daquele elenco tenho mais contato com o Zé Carlos,em 2013 fui convidado para jogar pela comemoração dos 25 anos do Titulo de 88.
Notamos que tem muito orgulho quando fala do clube, e o novo Presidente tem convidado alguns ex jogadores do clube como, Lima Sergipano, Dico Maradona, Charles, para trabalhar no Tricolor. Se pintar um convite para trabalhar em algum projeto do Bahia, teria coragem de encarar?
Olha não tem como recusar um convite de um time como aquele. Digo que sim de primeira porque, adoro a Bahia e sou um apaixonado por aquele Tricolor. Claro hoje estamos trabalhando com nosso projeto de Escolinha, estamos pensando em montar uma Academia de Futebol, temos nosso trabalho mas se vier algum convite aceiraria de coração e não pensaria duas vezes.
O que ganhou com o futebol lhe permite viver ou ainda precisará trabalhar um pouco mais?
Já comecei no futebol um pouco velho, cheguei no Bahia com 24 anos mas fiz um pouco de minha vida, comprei duas casas, tenho uma Chácara, mas só consegui ganhar um pouco mais no Japão.
O Bahia faz mais ídolo do que o Vitória porque?
Acho que é a paixão. O garoto quando nasce Bahia, não muda e vira aquela paixão onde mesmo indo para outro clube, seguirá torcendo para o Bahia.
Do Portal Futebol Bahiano
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