BRASÍLIA - O governo federal lançou nesta quarta-feira mais um programa de enfrentamento ao crack. Desta vez, a promessa é investir R$ 4 bilhões da União, em articulação com estados, Distrito Federal, municípios e sociedade civil. Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o plano prevê a ampliação dos consultórios de rua - serão 308 até 2014. Esses ambulatórios móveis contarão com a presença de profissionais como médicos, enfermeiros, psicólogos e lideranças locais. São eles que irão determinar se é necessária a internação compulsória, medida polêmica que divide a comunidade médica.
Em maio do ano passado, às vésperas da eleição, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou um programa semelhante, que tinha como linhas-mestras de atuação os mesmos três eixos do projeto de Dilma, mas com nomes diferentes: cuidado (tratamento), autoridade (combate) e prevenção (mesmo nome no programa de Lula). À época, o PSDB ocupou espaços publicitários para dizer que o petista não estava dando atenção ao problema. O programa de Lula teve como objetivo ajudar Dilma, sua candidata, e destinou R$ 400 milhões para as ações.
"Epidemia"
O mote da atual campanha é "Crack, é possível vencer". O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, comparou o momento atual no combate à droga à epidemia de Aids no início da década de 80, quando a comunidade médica se viu diante de questionamentos éticos e de como atuar para resolver o problema. Na visão de Padilha, a Aids agora está sob controle e a saúde encontrou uma forma de atuação. Isso, segundo acredita, deve se repetir com o crack.
"O crack tem a mesma dimensão deste desafio. No conceito técnico, estamos, sim, diante de uma epidemia de crack em nosso país", afirmou o ministro, observando que de 2003 até o momento aumentou em 10 vezes o número de atendimento na rede de saúde aos dependentes químicos, o que inclui outras drogas além do crack.
"O consultório na rua não serve para internação compulsória. Serve para proteger a vida", disse Padilha, procurando criar uma frase de efeito. De acordo com ele, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) já prevê a internação de crianças e adolescentes que corram risco de vida.
O atendimento psicossocial aos dependentes também funcionará 24 horas por dia, e não mais em horário comercial, como era feito até então. Padilha prometeu multiplicar por quatro o valor diário repassado às enfermarias especializadas em tratamento de álcool e drogas nos hospitais.As unidades de acolhimento serão 430 até 2014.
Tráfico de drogas
Na área de combate ao tráfico, o ministério da Justiça disse que irá atuar em conjunto com os estados e municípios. Sem dar detalhes de como isso ocorrerá, por alegadas questões de segurança, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que haverá monitoramento de imagens nas chamadas cracolândias, inclusive para evitar distorções e desvios dos próprios policiais.
"Vamos identificar e prender os traficantes através de um trabalho integrado entre a Polícia Federal e as polícias locais", disse Cardozo.
A presidente vai enviar, na próxima segunda-feira, um projeto de lei que altera o Código de Processo Penal para acelerar a destruição de entorpecentes apreendidos pela política e agilizar o leilão de bens utilizados no tráfico de drogas. Quanto à prevenção, o governo irá investir recursos em ações nas escolas, comunidades e com a população em geral. Está prevista publicidade institucional e um programa de capacitação no Programa de Prevenção do Uso de Drogas na Escola para 210 mil educadores e 3,3 mil policiais.
A presidente Dilma Rousseff afirmou que não há um modelo pronto de sucesso, mas é preciso avançar. Ela afirmou que é preciso adotar uma repressão "sem complacência" e, comparando com os avanços do país em áreas sociais como a inclusão dos pobres na classe C ou a geração de empregos, Dilma afirmou que é possível vencer o problema.
"Um país que conseguiu tudo isso vai ter também uma política ampla, sustentável de enfrentamento às drogas", discursou ela.
Depois, dirigindo-se aos pais de dependentes em crack, Dilma utilizou um tom emocionado para dizer que o Estado estará ao lado deles.
"Quero dizer que nós todos temos de fazer da dor deles a nossa dor. E ao fazer isso, temos clareza que vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para recuperação de seus filhos e filhas e que a alegria deles seja também a nossa alegria", afirmou, para encerrar:
"Temos de ter sempre fé e esperança na recuperação de cada um que está nessa situação."
Do Yahoo
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