Foto: Reprodução / Twitter Marinha do Brasil
A Polícia Civil de Minas Gerais vai analisar o possível vínculo entre uma obra para a construção de um mirante com o desabamento de parte de um cânion no lago de Furnas. O incidente no sábado (8) provocou a morte de dez pessoas.
A hipótese é levantada por pilotos de lancha da região e descrita em áudio de um suposto engenheiro ambiental que viralizou pela cidade. Na gravação, o homem afirma como a intervenção pode ter afetado a estabilidade das rochas na região. A reportagem tentou, sem sucesso, contato com ele.
O delegado Marcos Pimenta, da Delegacia Regional em Passos, responsável pela apuração do caso, afirma, no entanto, considerar prematuro vincular a obra ao acidente. Contudo, diz que um geólogo contratado para apoiar a investigação analisará o caso.
"Já estamos em contato com um geólogo que vai nos auxiliar nas respostas que estão questionadas pela imprensa. Em especial sobre a rocha, se uma obra no parque pode ter causado essa influência. Acredito que é prematuro, neste momento, outorgar a alguém essa responsabilidade", diz Pimenta.
O mirante foi inaugurado há dois anos na rocha envolvida no acidente. Ele fica próximo, mas não exatamente em cima do local em que houve o desabamento.
Já o ex-coordenador de Meio Ambiente do município, Gleison Oliveira, afirmou que era contrário à construção em razão do impacto no local.
"Sempre fui contrário a essa obra porque ela traria muito prejuízo ambiental. Não vou ser leviano em dizer que sabia que isso ia acontecer. Longe disso. Mas seria prejudicial à vegetação", disse ele, que esteve no cargo entre 2013 e 2016.
"Mas, pelo mínimo entendimento geológico que tenho, as obras que aconteceram no local e o maquinário usado podem ter causado algum efeito. A retirada da mata ciliar e o carreamento dessa água por veios não naturais pode ter ajudado a deslocar essa fenda."
Durante o programa Mais Você, da TV Globo, nesta segunda-feira (10), Jesus Sebastião, conhecido como Zuza e dono da lancha que afundou no sábado (8), falou sobre o acidente que matou dez pessoas.
"Venho desabafar aqui. Pedir meu sentimento a toda família e sobre também sobre as causas desse acidente. Que provavelmente tudo se indica a uma construção em cima do mirante dos cânions, que, há um ano atrás, vem trabalhando várias máquinas pesadas, vários bate-estacas trabalhando, fazendo perfurações em cima dos cânions", disse.
Zuza considera que as obras contribuíram para o desabamento de parte do cânion. "Isso tudo leva a se desgrudar aquela rocha com o tempo. Trabalharam várias máquinas, mexeram no ambiente natural lá em cima."
Outro barqueiro que trabalha na região há mais de sete anos e pediu para não ser identificado concorda com Zuza.
Segundo ele, foram feitas diversas implosões no local para a construção de uma área de estacionamento e, na sua visão, isso pode ter danificado a rocha. Ainda segundo ele, no período em que atua na região, nunca presenciou a queda de pedras nos cânions.
O mirante é parte de um projeto grandioso que prevê a construção, até 2026, de três parques de lazer, sendo um de contemplação, um de aventura e um aquático, além de resort e restaurante. O anúncio de investimentos foi de R$ 135 milhões para a região.
Em setembro de 2021, o secretário de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, esteve na inauguração de uma tirolesa instalada no Parque Mirante dos Canyons.
No dia seguinte, durante a reunião sobre a abertura do processo de tombamento dos lagos de Furnas e Peixoto, Oliveira disse que visitou a área.
"Nós inauguramos a tirolesa e teremos um resort muito vigoroso, um parque com uma paisagem. Esse ato, juntamente com o comércio que já existe em Capitólio, juntamente com a rede hoteleira, vai fazer com que nós coloquemos Capitólio na prateleira internacional", disse o secretário na ocasião.
Procurado, o Parque Mirante dos Canyons não respondeu até a conclusão da reportagem.
Do Portal Bahia Notícias/por Italo Nogueira e Isabella Menon | Folhapress
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