Foto: Ulisses Gama / Bahia Notícias
O ano de 1979 representou uma grande mudança para o Esporte Clube Bahia, até ali campeão nacional uma vez. Da Fazendinha, na região do Costa Azul, o Esquadrão de Aço se mudou para Itinga, onde fica o Fazendão. À época, a nova concentração tricolor era motivo de orgulho da torcida, exaltada pela sua importância na construção da estrutura.
"Isso que vocês estão vendo aí, não pensem que é dinheiro nosso. Isso aí, cada pedra, cada saco de cimento, cada caminhão de areia, é dinheiro do torcedor. De uma família unida pelo bem tricolor. Por isso eu me sinto satisfeito em ver toda essa gente aqui presente", disse o recém-empossado Paulo Maracajá na inauguração do Centro de Treinamento Osório Villas Boas.
Foto: Divulgação / EC Bahia
Depois de viver uma década de ouro com o heptacampeonato baiano, o Bahia sonhava que um novo tempo de glórias viria com a nova casa. E esse tempo chegou. Com Evaristo de Macedo no comando, o Tricolor de Ronaldo, João Marcelo, Charles e Bobô conseguiu mais uma conquista de título brasileiro.
O Fazendão viveu com o Bahia momentos gloriosos e acolheu os jogadores em momentos dificílimos. Foi assim no primeiro rebaixamento em 1997 e a queda para a Série C em 2005. O lugar também foi palco de guerra em 2008, quanto torcedores invadiram o gramado para brigar com atletas.
Foto: Felipe Oliveira / Divulgação / EC Bahia
Em 2012, vieram os primeiros sinais do adeus. Em Dias D'Ávila, a Cidade Tricolor começou a ser construída e em 2013 a estrutura, quase pronta, chegou a ser apresentada para a imprensa. No entanto, um imenso imbróglio deu ao Fazendão mais anos de utilidade - o que quase foi inviabilizado.
A construtora OAS, responsável por levantar a Cidade Tricolor, acabou envolvida na operação Lava Jato e colocou as duas estruturas como garantia de uma dívida. Na época, foi preciso entrar com uma medida cautelar para que a venda dos dois centros de treinamento fosse evitada. Toda essa confusão só acabou solucionada em 2016.
"A gente tentou fazer uma concilação extrajudicial com a OAS e os credores. Posteriormente a gente entrou com uma ação judicial que questionava desde o primeiro acordo, quando envolveu a permuta do Fazendão. Lá em 2010, o presidente destituído [Marcelo Guimarães Filho] tinha feito uma permuta entre Fazendão e Cidade Tricolor. Depois, houve um aditivo contratual onde o Bahia precisaria pagar um aditivo de R$ 10 milhões e esse aditivo não tramitou conforme o estatuto da época. No trâmite judicial, as partes fizeram um acordo em que o Bahia pagou à vista cerca de R$ 6,5 milhões. O Bahia disponibilizou uma quantidade de R$ 21.780.000 em Transcons. Em troca, teve de volta a propriedade do Fazendão e da Cidade Tricolor e de um terreno vizinho. Tecnicamente, quando entrei na presidência do Bahia, o clube não era proprietário de nenhum desses terrenos", disse o ex-presidente Marcelo Sant'Ana, em entrevista ao Bahia Notícias.
Com o caso solucionado, o Bahia recebeu as chaves do novo centro de treinamento e uma imensa reforma foi feita. Nos últimos anos, houve a promessa de mudança, que finalmente vai ocorrer a partir de 2020. A esperança é que seja aberta uma nova era no clube.
Cidade Tricolor é o futuro do Bahia | Foto: Felipe Oliveira / Divulgação / EC Bahia
Entre os vários funcionários que fazem o Fazendão acontecer, está Jayme Brandão, antes assessor de imprensa e hoje gerente de futebol. Responsável por levar diversos técnicos para a sala de imprensa Genésio Ramos, o profissional não esconde o carinho que tem pela estrutura do Esquadrão.
"Frequento o Fazendão desde 2006, foi o ano que entrei no Bahia como assessor de imprensa. Um ambiente que passei meus últimos 13 anos, mais tempo aqui do que na minha casa. Nos últimos dois anos, meu envolvimento aumentou, em virtude de ter me tornado gerente. Uma das tarefas é manter o CT em boas condições de uso, melhorias de instalações... Acabei me envolvendo mais, vendo a evolução. Cada equipamento que a gente colocava era uma grande satisfação. É um local muito especial na minha vida. Foi aqui que conheci minha esposa e vou sentir saudades. Por outro lado, entendo a evolução de estrutura que vamos ter na Cidade Tricolor. Estou vivendo os últimos dias aqui e vai ser diferente não vir para cá. Vai ficar o lado saudosista, mas entendendo a necessidade. O Fazendão vai ter sempre um local nas minhas lembranças e no meu coração, mas é o momento de partir para o novo", indicou.
Da sala de imprensa saíram muitos textos para o Bahia Notícias. Além do atual repórter, Éder Ferrari e Felipe Santana acompanharam o cotidiano do Esquadrão no CT. Foto: Ulisses Gama / BN
Um pensamento parecido passa na cabeça dos técnicos Dado Cavalcanti e Roger Machado. Cientes da importância da história do Fazendão, os dois entendem que a Cidade Tricolor será vital para dar apoio aos atletas.
"Não tinha nem pensado nessa condição. Nos traz lembranças nostálgicas da história do Bahia. Agora vamos migrar pra uma condição muito melhor. Penso eu que existe a questão saudosista de lembrar desse lugar com grandes ídolos, mas estamos indo para uma condição de espaço maior, tentar extrair o melhor dos atletas. Particularmente, vejo isso com alegria. Sei que será melhor para o Bahia, mas as lembranças boas ficarão. Fiz parte um pouquinho do Fazendão e vou guardar as recordações", citou Dado.
Foto: Felipe Oliveira / Divulgação / EC Bahia
"As instituições crescem por fases. Ciclos começam e se encerram. Estivemos no CT para ver como estão as evoluções e tudo indica que iniciaremos o ano na nossa nova casa. É uma oportunidade importante porque recoloca o clube no patamar dos grandes. Não que o Fazendão não nos desse isso, mas as demandas vão aumentando. O lugar é lindo, vai nos acolher bem. Que bom que pude pegar o finalzinho do Fazendão. Para os mais saudosos, a história que está ali será recontada na Cidade Tricolor com a mesma energia que o Fazendão traz para a gente", destacou Roger.
Foto: Felipe Oliveira / Divulgação / EC Bahia
Para Gilberto, artilheiro do clube na temporada com 29 gols, a distância não será mais contundente do que a estrutura que o novo CT promete entregar.
"Em Dias D'Ávila, vai ser um caminho longo. Mas vai ser bem recompensado porque a estrutura é de altíssimo nível. Todo mundo fala. Ainda não fui lá, queria ir. Depois vou dar uma passada para ver como vai ser lá", projetou o camisa 9.
QUAL É O FUTURO DO FAZENDÃO?
Com todas as atividades transferidas para a Cidade Tricolor, o Fazendão ficará sem utilidade para o Bahia. Com isso, a ideia do clube é vender o imóvel e fazer investimentos na nova estrutura com os recursos obtidos. Para isso, contudo, será preciso passar pela assembleia de sócios do clube. Foi o que explicou o vice-presidente do Tricolor, Vitor Ferraz.
"O futuro do Fazendão será decidido pela assembleia geral. A nossa compreensão é de vender o patrimônio para o clube investir na expansão da Cidade Tricolor e outros benefícios. Como eu disse, essa é a ideia da diretoria, que deve ser corroborada pela assembleia. Estamos preparando um estudo de valor de mercado e vamos fazer um processo transparente", explicou, em entrevista ao Bahia Notícias.
"O Fazendão com certeza vai deixar muita saudade para jogadores, funcionários e torcida. É um lugar de memória afetiva forte. Foi a nossa casa do segundo Campeonato Brasileiro, conquistamos títulos e de lá saíram grandes atletas. O bairro se constituiu no entorno do Bahia e o clube hoje é uma referência na região, um organismo vivo. Compreendendo as circunstâncias em que o Bahia passou de perder a totalidade do patrimônio por toda a irresponsabilidade cometida. Diante disso, a solução foi o Bahia adquirir o novo CT e recuperar o Fazendão. Com a impossibilidade do Bahia manter dois patrimônios, se faz necessário dar um passo adiante e transferir as atividades para a Cidade Tricolor. A gente sabe que todo mundo vai sentir uma falta grande, mas entendemos que é o mais adequado", finalizou.
Foto: Felipe Oliveira / Divulgação / EC Bahia
Do Portal Bahia Notícias/por Ulisses Gama
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