A depender das pesquisas Ibope e Datafolha divulgadas na quinta-feira 23, ela conseguiu. Em uma semana, ganhou pontos em praticamente todas as regiões, graças ao apoio recebido em determinados segmentos da sociedade, sobretudo entre mulheres e a classe média, onde o rival surfava até ontem. O desempenho é inversamente proporcional ao índice de rejeição do tucano.
O que mudou na vida do eleitorado em uma semana? Nada, a não ser os humores provocados, bem ou mal, por uma propaganda mais clara, mais incisiva e mais agressiva. Nessa mudança, entra em desvantagem quem era ainda desconhecido pelo grosso do eleitorado – e, portanto, tinha menos votos cristalizados. Nele a propaganda petista colou, em várias frentes, a imagem de cafajeste, agressivo, bon vivant, irresponsável, mau gestor. Aécio, que tinha o noticiário a seu favor – as revelações à Justiça dos investigados por desvios na Petrobras –, passou mais tempo deste segundo turno rebatendo as críticas sobre seu governo em Minas Gerais e sobre a vida pessoal, inclusive a recusa em fazer o teste do bafômetro em uma blitz da Lei Seca do Rio.
Também foi obrigado a abordar o tema da violência contra mulheres – sobretudo após levantar a voz para Luciana Genro (PSOL) num debate do primeiro turno e por chamar a presidenta Dilma de “leviana”, no segundo. De repente o gestor competente criado por sua propaganda se tornava, na propaganda petista, o sujeito desrespeitoso capaz de agredir ao vivo uma autoridade que era também mãe e avó.
Exagero? Parte do eleitorado não acha.
Como a cultura nacional dá a quem nega qualquer acusação o mesmo crédito de quem é culpado até a prova em o contrário, Aécio chega à reta final da campanha sob desconfiança, em apuros e com poucas horas para reverter o quatro projetado pelos institutos de pesquisas. Nessas horas haverá um detalhe que pode ser crucial: o debate na TV Globo, para muitos o único que realmente importa em toda a campanha.
A grade questão é qual será o figurino que cada um levará ao estúdio: os cães de guarda do encontro do SBT ou os gestores bem-comportados do duelo da Record?
Desta vez dois entraves podem servir como freios a possíveis inclinações bélicas. Uma é a participações com perguntas dos indecisos, que hoje representam 6% do eleitorado. O bloco deve servir como força centrípeta em direção a um debate menos agressivo e mais propositivo.
Outro fator de contenção é que ninguém quer correr o risco de deixar uma má impressão justamente na última foto – a história de que a primeira impressão é a que fica é balela: só a última é que importa. E esta última será acompanhada por uma multidão.
O fato é que, durante o embate, Aécio terá um tempo precioso para se desfazer da imagem explorada pelos adversários. Não vai ser fácil: é preciso rebater ponto a ponto as acusações – ele chama deinverdades – sem perder a paciência nem soar agressivo. Mas terá a chance de perguntar, por exemplo, o que a petista diz sobre a reportagem de capa da revista Veja - em que a presidenta é acusada de saber dos desvios da Petrobras. Mas Veja tem candidato nesta eleição, e o crédito que este candidato dará à reportagem será o mesmo dos delatores que acusam seu partido, o PSDB, de integrar o esquema. É uma escolha de Sofia.
Com ou sem crédito à revista, Dilma, a se fiar pelas pesquisas, tem o jogo na mão. Por isso deve reforçar o confronto plebiscitário entre as gestões PT e PSDB, abusar dos números a seu favor e não cometer grandes deslizes. Para ela será um jogo de xadrez; para Aécio, uma partida de futebol. Ele é o time que perde por 2 a 0 e vê o relógio cravar 40 minutos no segundo tempo. Perto dos acréscimos, até os treinadores mais cautelosos mandam seus goleiros para a área adversária.
Só que, em política, a regra esportiva segundo a qual “perdido por um, perdido por mil” não vale. O cálculo leva em conta não a próxima rodada, mas o próximo campeonato – e este já está pré-agendado para 2018.
Do Yahoo - Matheus Pichonelli
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