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quinta-feira, 5 de maio de 2022

Sobrevivente de câncer que perdeu perna corre 104 maratonas em 104 dias

Jacky Hunt-Broersma, de 46 anos, correu 42 quilômetros todos os dias desde meados de janeiro, levando normalmente cerca de cinco horas | Foto: Arquivo Pessoal via BBC

Uma mulher que começou a correr depois de ter a perna esquerda amputada por causa de um câncer pode entrar para o Guinness Book, o livro dos recordes, por mais maratonas consecutivas.

Jacky Hunt-Broersma, de 46 anos, correu 42 quilômetros todos os dias desde meados de janeiro, levando normalmente cerca de cinco horas.

No último sábado (30), ela completou sua 104ª maratona em 104 dias consecutivos — uma conquista que ela espera que seja certificada pelo Guinness Book.

Um porta-voz da organização disse que a certificação do recorde levaria cerca de três meses.

Acordar no domingo — finalmente um dia de folga — foi uma experiência bizarra para Jacky.

“Parte de mim estava muito feliz por ter terminado”, disse ela à BBC de sua casa no Arizona, nos EUA.

“E a outra parte continuou pensando que eu preciso correr.”

Seu corpo também está se recuperando do esforço em busca do recorde, apesar de ter parado.

Jacky — que nasceu e foi criada na África do Sul, e também morou na Inglaterra e na Holanda — se sente grata, porque correr deu a ela a confiança que temia nunca recuperar.

Em 2002, médicos na Holanda a diagnosticaram com sarcoma de Ewing, um tipo raro de câncer ósseo.

Em duas semanas, amputaram sua perna esquerda para salvar sua vida. Ela tinha apenas 26 anos.

“Foi uma montanha-russa”, relembra. “Tudo aconteceu muito rápido.”

Nos primeiros dois anos, Jacky sofreu com a mudança em sua vida. Ela estava com raiva por ter câncer e envergonhada por ser diferente. Usava calça comprida em público para que as pessoas não notassem a prótese.

Quase por um capricho, ela começou a correr em 2016.

Ela já havia aplaudido o marido em eventos de corrida de longa distância, mas nunca tinha pensado em fazer isso, achava que era só “para gente louca”.

Ela comprou então uma prótese especial para corredores de longa distância — e se inscreveu para participar de sua primeira corrida de 10 km.

Na véspera da prova, ela mudou sua inscrição para a categoria meia maratona — e, desde então, não olhou para trás, explorando distâncias maiores e terrenos diferentes.

“Sou uma pessoa de tudo ou nada, então me joguei”, explica. “Adoro ultrapassar limites e ver até onde posso ir.”

No início do ano, Jacky deu a si mesma uma nova meta: o recorde de mais maratonas consecutivas.

O recorde feminino do Guinness é de 95 maratonas — estabelecido há dois anos por Alyssa Amos Clark, uma corredora não amputada de Vermont, nos EUA — que conquistou a proeza como uma estratégia para lidar com a pandemia de covid-19.

O recorde masculino do Guinness é de Enzo Caporaso, da Itália, com 59 maratonas — embora o ultramaratonista espanhol Ricardo Abad tenha supostamente corrido 607 maratonas consecutivas, terminando em 2012.

Então Jacky — que é mãe de dois filhos e trabalha como treinadora de resistência — começou a correr com o recorde em mente, certificando-se de que corresse sempre pelo menos a distância de uma maratona.

Ela disputou provas mundialmente famosas, como a Maratona de Boston e a Lost Dutchman no Arizona. Mas, como não há maratonas agendadas todos os dias, ela também correu em caminhos de terra locais, trilhas na vizinhança e até mesmo em sua própria esteira em casa.

E quando a corredora britânica Kate Jayden bateu o recorde de Alyssa ao completar 101 corridas, Jacky continuou correndo para ultrapassá-la e “fechar o mês [de abril]” com uma maratona final.

Ao todo, ela correu 2.734 milhas (cerca de 4.400 quilômetros). O Guinness Book disse à agência de notícias AP que levaria cerca de 12 a 15 semanas para revisar as evidências e certificar o recorde.

Documentando essas corridas nas redes sociais, Jacky arrecadou mais de US$ 88 mil para a Amputee Blade Runners, uma organização sem fins lucrativos que fornece próteses de corrida como a dela para pessoas com membros amputados.

As corridas têm sido principalmente um jogo mental, diz ela, mas também cobram um preço físico.

Ela tem que usar revestimentos e meias com suas próteses, e precisa massagear, alongar e colocar gelo no coto da perna diariamente. Notavelmente, ela permaneceu livre de lesões durante todo o feito.

Na verdade, Jacky gostaria de ter começado a correr mais cedo.

“Correr fez uma grande diferença no meu estado mental e me mostrou o quão forte meu corpo pode ser. Isso me deu uma aceitação total de quem eu sou e que posso fazer coisas difíceis.”

E ela está determinada a continuar. Seu próximo desafio é a Moab, uma corrida cansativa de 240 milhas (cerca de 386 quilômetros), no Estado americano de Utah, em outubro.

Do Portal NS/Fonte: BBC

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