A Orquestra Sisaleira, de Conceição do Coité, no sertão da Bahia, vai se apresentar nesta quinta-feira (8) na abertura da edição virtual da Feira Literária de Canudos (Flican).
O grupo musical foi criado em 2018 e é formado por adolescentes e jovens que fazem parte do projeto “Som do Sisal”. Foi buscando uma alternativa para a construção de instrumentos musicais mais baratos que Josevaldo Nim, ou maestro Nim, fundador do projeto, teve a ideia de utilizar um material abundante na região: o sisal.
A planta é de origem mexicana, mas atualmente o estado da Bahia é o maior polo produtor e industrial no mundo. A região “sisaleira” do estado compreende os municípios como Valente, Queimadas, Santaluz, Retirolândia, São Domingos, Araci e Conceição do Coité.
Josevaldo conta que a ideia de usar o sisal para confeccionar instrumentos surgiu quando foi participar de uma formação em Tocantins, onde descobriu que a comunidade construía violas a partir do buriti, planta abundante na região do cerrado brasileiro.
“Depois percebi que o buriti tem uma semelhança com o sisal: a parte interna das duas plantas é meio ‘esponjosa’. Eu trouxe uma viola de buriti para casa e mostrei para meu primo. Ele topou tentar construir uma viola de sisal, inspirada na de buriti. Foi a partir disso que surgiu o projeto ‘Som do Sisal'”, conta o músico.
Ainda de acordo com o fundador do grupo, a utilização da planta também surgiu a partir da demanda dos jovens, que precisavam de acesso a instrumentos musicais mais baratos. No entanto, não se limita a isso, pois também passa pelos pilares da inovação, sustentabilidade e fortalecimento da cultura local.
“O uso do sisal surgiu como uma iniciativa sustentável e inovadora. É um trabalho de responsabilidade ambiental e ao mesmo tempo agrega valor simbólico para a região e para a cultura local. A ideia é multiplicar esse conhecimento e dar mais acesso à música e à cultura para os nossos jovens”, ressalta.
A madeira e o som
O corpo dos instrumentos utilizados pela orquestra é feito de uma parte específica da planta do sisal, a haste, conforme explica Josevaldo. A haste é uma parte do sisal que “sobra”, depois que as folhas são retiradas para a confecção da fibra (usada para fazer cordas).
“A parte que a gente utiliza da planta é a haste, uma flecha que surge no final do ciclo produtivo da planta, que tem um ciclo de 4-6 anos. Quando já foram retiradas as folhas para fazer fibra, surge essa ‘flecha’. Dela é que retiramos a madeira”, explica.
O material utilizado no corpo dos instrumentos já é usado em outras situações. “Aqui na região o pessoal usa esse material para fazer cercados, suporte para construção civil, mas têm pouco uso”, conta Josevaldo.
“Com a nossa descoberta, acabamos desenvolvendo outro uso para esse material e agregando valor simbólico/cultural para ele”.
Os instrumentos, no entanto, não são feitos totalmente do sisal. Também são utilizadas madeiras. De acordo com Josevaldo, fica cerca de 70% de sisal em cada instrumento. Isso já é o suficiente para dar uma sonoridade característica para a música feita a partir desses instrumentos.
“O sisal dá uma característica bem peculiar ao som dos instrumentos que nós fabricamos. Costumamos dizer que temos um laboratório permanente da sonoridade desses instrumentos, mas também vai muito além, porque também vai investigar a cultura da comunidade e representamos tudo isso no palco”, finaliza Josevaldo.
O grupo se apresenta às 19h, na abertura da II Feira Literária de Canudos. O evento gratuito será transmitido pelo canal da Universidade do Estado da Bahia, campus Canudos.
Do Portal NS
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