Poderia trazer aqui minhas impressões sobre cada vez que me deparo
com uma criança trabalhando numa sinaleira de Salvador, invariavelmente com
aspecto de tristeza e pobreza. Mas prefiro trazer uma reflexão de Chico Xavier
e uma descrição extremamente sensível do escritor Rubem Alves.
Chico Xavier certa vez disse que diante de uma criança batendo em seu vidro do carro há duas alternativas: pensar que tudo está perdido ou pensar que há muito o que fazer.
Rubem Alves diz "...eu vejo uma criança vendendo balas um semáforo. Ela me pede que eu compre um pacotinho das suas balas. Eu e a criança - dois corpos separados e distintos. Mas, ao olhar para ela, estremeço: algo em mim me faz imaginar aquilo que ela está sentindo. E então, por uma magia inexplicável, esse sentimento imaginado se aloja junto dos meus próprios sentimentos. Na verdade, desaloja meus sentimentos, pois eu vinha, no meu carro, com sentimentos leves e alegres, e agora esse novo sentimento se coloca no lugar deles. O que sinto não são meus sentimentos. Foram-se a leveza e a alegria que me faziam cantar. Agora, são os sentimentos daquele menino que estão dentro de mim. Meu corpo sofre uma transformação: ele agora ligado a um outro corpo que passa ser parte dele mesmo. Isso não acontece nem por decisão racional, nem por convicção religiosa, nem por um mandamento ético. É o jeito natural de ser do meu próprio corpo, movido pela solidariedade. Acho que esse é o sentido do dito de Jesus de que temos de amar o próximo como amamos a nós mesmos. A solidariedade é a forma visível do amor. Pela magia do sentimento de solidariedade, meu corpo passa a ser morado do outro. É assim que acontece a bondade."
Abrir a carteira e estender uma cédula ou moeda ao pequeno brasileiro que está a perambular entre carros é se entregar à solidariedade imediata e aparentemente libertadora.
Porém estaremos alimentando essa modalidade de
exploração do trabalho infantil. Existem muitas outras a serem enfrentadas:
trabalho infantil nos esportes, nas atividades artísticas, domésticas, rurais,
tráfico de entorpecentes e exploração sexual. A infância pede passagem,
independentemente da classe social.
Antonio Ferreira Inocencio Neto
Auditor-Fiscal do Trabalho
Auditor-Fiscal do Trabalho
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