Quem está pensando em fazer o caminho da roça para cidades do interior da Bahia durante o São João pode botar o freio nos pensamentos. A longa estiagem, que mantém 214 municípios em situação de emergência, terá reflexos na tradicional festa pelo segundo ano consecutivo.
Em pelo menos dez cidades o São João será magro. Em Senhor do Bonfim, um dos destinos mais procurados, uma audiência pública será realizada nesta sexta-feira para decidir se haverá a comemoração junina. Em São Gonçalo dos Campos, o evento já foi cancelado e em outras cidades haverá reduções no número de atrações, principalmente as de impacto nacional, com cachês acima dos R$ 300 mil.
O chefe de gabinete da prefeitura de Senhor do Bonfim, Ricardo Aquino, explica que a situação de abastecimento na cidade é crítica. Por isso, caberá à população decidir sobre os festejos. “Se não tiver o São João, vai ser a primeira vez na historia da cidade. Recebemos quase 40 mil turistas”, explica. Ano passado, após recomendação do Tribunal de Contas dos Municípios, os festejos na cidade foram reduzidos de cinco para três dias.
Moradora de Senhor do Bonfim, Anália Silva, 67, vê sua casa se transformar em albergue de amigos do seu filho durante o período. Este ano, ela não sabe se receberá visitas. “Aqui está uma calamidade só. Esse ano, acho que não vem ninguém”, lamenta a dona de casa, que só não deixará de acender a fogueira. “Vou ficar só com meus filhos comendo milho assado”.
Cancelou festa
No ano passado, os moradores de São Gonçalo dos Campos contaram com atrações como o sertanejo Gustavo Lima e a banda Chiclete com Banana. Mas, este ano, o prefeito Antonio Dessa Cardozo cancelou o evento e pode não ter sequer um sanfoneiro.
“Não temos condições de fazer festa. Ano passado, em maio, já estava com tudo pago. Esse ano não tem dinheiro”, explica o prefeito, destacando que o município vive uma crise de arrecadação. Em cidades como Amargosa, o período junino deve ser mais modesto. O município, que está sem chuva há dois anos e tem dificuldades para encher carros-pipa, deve fazer a festa entre 19 e 24 de junho. Diferente de anos anteriores, quando tinham duas ou três grandes atrações nacionais todos os dias, dessa vez o número será menor.
“Devemos ter somente uma atração de nome nacional para atrair o público na sexta-feira, sábado e domingo. Durante a semana, teremos tradicionais quadrilhas juninas e trios nordestinos”, explica o secretário de Administração, Marinaldo Cardoso.
A estimativa é que sejam gastos entre R$ 1,5 e R$ 2 milhões, semelhante ao que foi gasto ano passado. “Não podemos deixar de fazer a festa, pois é a data econômica mais importante no município”.
Festa curta
Em Jaguarari, o arrasta-pé só terá dois dias e será animado por atrações da região. Bem diferente de anos anteriores, que tinham cinco dias de festa com atrações de porte nacional como Aviões do Forró e Victor & Leo.
“Estamos gastando tudo para minimizar os efeitos da estiagem comprando ração e água. Temos que abastecer 15 carros-pipa por dia, explica o prefeito Antonio Ferreira Nascimento. Ano passado, a cidade investiu R$ 700 mil na festa. Este ano, os gastos não devem passar de R$ 200 mil”.
Em Vitória da Conquista, o esquema junino também será nos moldes tradicionais e a prefeitura ainda não definiu se serão 5 ou 8 dias de festa. A cidade abriu licitação para contratação de bandas.
“Vamos valorizar os artistas locais que cobram cachês de R$ 1 mil, R$ 2 mil”, explica o secretario de Cultura da cidade, Gildeilson Felício. A estimativa é que sejam gastos no máximo R$ 500 mil. “Temos que, mesmo mais modestamente, movimentar a cultura regional”.
DúvidasAlgumas cidades como Crisópolis, Itaberaba e Entre Rios ainda não sabem como vai ser o formato da festa, o que deve ser decidido no próximo mês, de acordo com a previsão do tempo.
O secretário estadual de Turismo, Domingos Leonelli, afirmou que há um chamamento público para contemplar municípios com projetos de festejos juninos. “São R$ 6 milhões para investimento. Os valores de cada projeto variam de R$ 30 mil a R$ 120 mil”, diz.
Apesar de reconhecer os efeitos da estiagem, Leonelli critica os cancelamentos. “O São João é a data mais importante da economia da Bahia, mais que o carnaval. Vende-se mais cerveja no São João. Tirar a festa de uma cidade é impactar na economia e nas tradições”. (Com informações do Correio/Foto: Pedro Oliveira).
Do Portal Interior da Bahia
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