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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Amélia Rodrigues: Ex-prefeito é acusado de distribuir carne envenenada e matar 47 cães


O cenário é de um massacre e o cheiro da carnificina está impregnado no ar de São Bento do Inhatá. Dezenas de corpos espalhados pelas propriedades, cadáveres deixados na beira da estrada e uma comunidade inteira estarrecida.

A única diferença dessa para outras chacinas é que, em vez de seres humanos, as vítimas foram 47 cães, um gato e três galinhas. De tabela, um urubu que resolveu se banquetear com a carniça acabou aumentando a conta de mortos.

O extermínio cruel ocorreu na última sexta-feira, nas localidades de Bângala e Bolandeira, em São Bento do Inhatá, distrito de Amélia Rodrigues, a 84 quilômetros de Salvador. O autor, ao contrário de suas vítimas, é um animal racional. Supostamente.

Pior: além de ser humano, o acusado é ex-prefeito da cidade vizinha, Conceição do Jacuípe, e tem uma fazenda em São Bento do Inhatá. Dezenas de testemunhas descrevem o momento em que, usando uma motocicleta tipo “Biz”, o fazendeiro João Barros de Oliveira, conhecido como João de Roque, circulou pela região e cometeu o massacre.

O serial killer não escolheu raça, tamanho ou cor. Com uma luva e um saco amarelo cheio de carne, arremessou as ‘iscas’ envenenadas sobre muros e cercas dos terrenos. A carne, segundo moradores, era de um boi que João teria matado só para cometer o “cãocídio”.

O que motivou tal atitude? Os moradores acreditam que o simples fato de alguns cães vizinhos terem atacado um dos seus bezerros. Quando perceberam o que João fazia, os moradores avisaram a PM. Tarde demais.

O veneno colocado pelo criminoso nos pedaços de carne era tão forte que, ao comer os restos mortais dos cachorros, um urubu morreu. Algumas pessoas passaram mal, inclusive um policial militar. Em protesto, donos de cachorros jogaram seus animais na propriedade de João de Roque. Um cão foi pendurado na cancela da fazenda. 

Indignação
O funcionário do sítio que fica defronte à propriedade de João de Roque não segurou as lágrimas quando lembrou do vira-lata Wel, um dos cachorros que não resistiu ao veneno. Ontem de manhã, Agnaldo alimentou só o pastor preto Hulk e o outro vira-lata, Scooby.

“Quando vi que Wel não estava mais com a gente, não aguentei. Ele era especial. O nosso cão de guarda. Muito triste ver ele vomitando até morrer”, disse, aos prantos.

O dono do sítio, o administrador Raimundo das Neves, também estava desolado. “Minha filha chorou a manhã inteira. Era como se fosse da família”. Apesar do medo de uma retaliação, o funcionário não conteve a raiva. “Sei que corro risco de vida, que ele tem dinheiro, mas a gente não pode deixar isso impune”.

Mas nenhuma dor era como a de Jacira dos Santos, 64 anos. A aposentada perdeu sete cães na matança. “Biscuí”, “Latoia”, “Jack Chan”, “Preta”, “Zóio Furado”, “Quatro Ôio” e “Raquele” se estribucharam antes de morrer. “Latoia veio babando em cima de mim com aquela carinha de quem pede socorro, sabe?”, conta dona Jacira, ainda chocada.

“Sargento”, de apenas um mês de vida, foi um dos sobreviventes. Órfão, perdeu a mãe, a cadela “Raquele”. Já “Pintada” tinha acabado de ter ninhada de oito cachorrinhos. Envenenada, resistiu. Mas não pode amamentar. “Ela ainda está tremendo. Pode passar para os filhotes”. Informações do Correio. 

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