Foto: João Martins/TV Fronteira
Pecuaristas de ao menos cinco estados fazem na manhã desta segunda-feira (3) churrascos nas portas de agências do Bradesco, em protesto contra um vídeo em que influenciadoras recomendaram um dia sem carne e associam a prática a um aplicativo do banco que calcula pegadas de carbono.
O material circulou nas redes sociais há duas semanas e o Bradesco informou que tirou o vídeo do ar no último dia 23. Nele, três influenciadoras dão dicas de como o consumidor pode ter hábitos mais sustentáveis e reduzir sua pegada de carbono.
A primeira dica dada por elas é aderir ao movimento conhecido como "Segunda sem Carne", em que as pessoas optam por consumir pratos vegetarianos.
"A criação de gado contribui para a emissão dos gases de efeito estufa, então, que tal se a gente reduzir o nosso consumo de carne e escolher um prato vegetariano na segunda-feira?", diz uma delas.
O conteúdo irritou os ruralistas, despertando críticas de políticos que defendem pautas ligadas ao agronegócio, empresários do setor e entidades.
Sindicatos rurais organizaram por meio das redes sociais os churrascos, que batizaram de "Segunda com Carne". O protesto está marcado para acontecer nas portas das agências de Ribeirão Preto (SP), Araçatuba (SP), Birigui (SP), Cuiabá (MT), Rondonópolis (MT), Araguaína (TO), Água Boa (MT), Canarana (MT), Barra do Garça (MT), Goiânia (GO) e Xinguara (PA).
Em Mato Grosso, o protesto é apoiado pela Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), da Nelore Mato Grosso e da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu).
"Não é exagero da parte deles, é má-fé. Eles fazem de propósito para quebrar o agronegócio. A mesma propaganda feita pelo Banco do Brasil mostra a diferença entre um banco consciente e outro que faz difamação do agronegócio", disse o deputado estadual Gilberto Cattani (PSL).
Durante o ato em Cuiabá, cerca de 2.000 espetos de carne são distribuídos para as pessoas que passam pela agência, no centro da cidade. No fim da manhã, uma fila chegou a se formar na porta do prédio.
No ano passado, imagens de moradores de Cuiabá fazendo fila em busca de ossos ganharam as redes sociais. Nesta segunda, alguns deles aproveitaram que passavam pelo centro para pegar um espetinho com os manifestantes. Um deles é Estevão Vargas, 27. "Já peguei um pouco de carne e estou na fila para pegar de novo. Sou de Santa Catarina, mas mor em Cuiabá e apoio os manifestantes."
Para o pecuarista Jorge Pires de Miranda, também de Cuiabá, é importante que o setor se posicione contra a campanha. "Ela traz inverdades para a população, a pecuária é um segmento que só traz boas notícias para a população. Além de atendermos ao mercado nacional, exportamos para vários países, somos responsáveis por sustentar a balança comercial."
Segundo criadores de Xinguara (PA) divulgaram nas redes sociais, haverá doação de carne para quem levar um comprovante de inscrição no programa Auxílio Brasil e documento de identificação.
Segundo os sindicatos, os modelos de produção da agropecuária brasileira utilizam práticas sustentáveis, pastagens produtivas e integrações para a criação de bovinos, que contribuem positivamente para a questão das emissões de carbono.
Após tirar o vídeo de suas redes, o banco divulgou, no dia 24, uma carta aberta ao agronegócio, em que procurou se desvincular do conteúdo e disse que tomaria ações administrativas internas severas por conta do ocorrido.
"Nos últimos dias lamentavelmente vimos uma posição descabida de influenciadores digitais em relação ao consumo de carne bovina, associadas à nossa marca. Importante dizer que tal posição não representa a visão desta casa em relação ao consumo da carne bovina", diz a carta do banco.
Na semana passada, a Acrimat emitiu uma nota repudiando tanto o vídeo quanto a postura do banco, "que emitiu um comunicado se isentando de qualquer responsabilidade sobre o ocorrido e reiterando sua confiança e apoio ao setor".
"Ocorre que o próprio Bradesco, em um dos seus aplicativos, também estimula a redução do consumo de proteína animal com a desculpa de se reduzir a emissão de carbono. Ora, se somos uma das cadeias mais importantes para a economia, como o próprio Bradesco atua com essas duas versões?", questionou a entidade.
Na última sexta-feira (31), o Bradesco reiterou seu apoio ao setor e, por meio de nota, disse que a instituição é o maior banco privado do agronegócio.
"Foram a Pecplan e a Fundação Bradesco, com o apoio de seus técnicos, que implantaram e capacitaram milhares de agropecuaristas a fazer inseminação artificial, ajudando a agropecuária a chegar ao atual e reconhecido nível de excelência mundial."
Procurado novamente nesta segunda-feira, para comentar os atos de protesto marcados pelos ruralistas, o banco ainda não havia se manifestado até a publicação deste texto.
Do Portal Bahia Notícias/por Douglas Gavras e Rogério Florentino | Folhapress
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