O comerciante Adriano Soares, de 26 anos, e a fisioterapeuta Priscila Alves, 29, acusam o Hospital Municipal de Santaluz, na região sisaleira da Bahia, de negligência médica e violência obstétrica após a morte do bebê deles durante o parto.
Segundo eles, Priscila deu entrada na unidade de saúde na noite de sábado (3), por volta das 21h40, com indicativo de trabalho de parto após sentir fortes contrações.
Adriano conta que somente na manhã de domingo, por volta das 7h, a esposa foi encaminhada para a sala de parto, com dores mais intensas e a frequência das contrações comprometida.
“Priscila já estava muito cansada e sem dilatação suficiente para realizar o parto e não tinha passagem para a criança sair, ela pediu para ir pra cesariana várias vezes, pois não aguentava mais, estava sem forças. Só depois de 4h tentando, quando a equipe médica viu que os batimentos cardíacos do bebê já estavam caindo, foi correr atrás de transferir para outro lugar”.
Ainda segundo Adriano, Priscila foi levada para uma clínica da rede de saúde particular que fica na rua atrás do hospital para ser submetida a uma cesariana, mas o bebê não resistiu à demora na transferência e já estava morto.
“O bebê entrou em sofrimento fetal e já saiu do hospital sem vida ainda dentro da barriga. Teve que fazer uma cesariana de emergência na clínica”, contou.
Adriano e Priscila acusam o hospital de negligência médica e violência obstétrica, e alegam que a demora na transferência para a realização da cesariana foi decisiva para a morte de Vicente, como iria se chamar o primeiro filho do casal.
“A violência obstétrica veio de diversas maneiras tanto fisicamente como psicologicamente, no momento de fragilidade e vulnerabilidade de Priscila. Na sala de parto entrava muita gente, fazendo com que a concentração dela e intimidade fosse perdida, médicos e enfermeiras machucaram muito ela fazendo toque várias vezes, invalidando ela o tempo todo falando que ela não estava colaborando com o parto (mesmo sem passagem), e que ia ficar lá um ano esperando sair “esse bebê”, e que Priscila não sabia e não queria fazer a força correta. Ela pedia para mudar de posição, mas os profissionais não ajudaram e não indicaram posição diferente mesmo sabendo que tem várias outras posições da mulher ficar para o bebê sair. Ficavam de cara feia e fazendo ironia. Enfim, foi um grande desrespeito e negligência médica que tirou a vida do nosso filho e colocou a vida da minha mulher em risco, isso abalou muito nossa família”, lamentou Adriano.
Em uma publicação nas redes sociais, Priscila Alves também lamentou a situação e acusou o hospital de negligência.
“Tudo isso poderia ser evitado se a vontade e necessidade da paciente (eu) tivesse sido atendida de imediato, afinal eu conheço os limites do meu corpo. Eu poderia tá aqui com Vicente chorando querendo mamar, mas nem isso eu pude ouvir, o chorinho dele. Me tiraram a felicidade de receber Vicente nos meus braços, cuidar e dar muito amor porque ele era tão esperado. Tiraram o sonho de Adriano de ser pai de um bebê tão lindo que era a cara dele. Tudo isso por negligência médica”, lamentou Priscila.
Prefeitura terceirizou gestão do hospital
Em 2023, a Prefeitura de Santaluz passou a administração do Hospital Municipal para a associação Terra Mãe, cuja razão social é Fundação Gonçalves e Sampaio.
O projeto da gestão municipal gerou questionamentos da população, mas recebeu amplo apoio da bancada do prefeito Arismário Barbosa Júnior na Câmara de Vereadores, que garantiu a aprovação.
Desde que assumiu a administração do hospital, a Terra Mãe é alvo de reclamações constantes de pacientes e funcionários da unidade.
A reportagem tentou, mas não conseguiu contato com a fundação para solicitar um posicionamento sobre a morte do bebê.
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