“O rádio é uma cachaça”. A frase é do legendário narrador esportivo Itajay Pedra Branca, convidado para palestrar, na Câmara, em sessão solene comemorativa pelo Dia do Radialista, transcorrido dia 7 deste mês. Traduzindo, ele quer dizer que trabalhar nessa área é um “vício bom”. Está correto. Afinal, este extraordinário veículo de comunicação, que proporciona informação e entretenimento por meio da música, da cultura e do esporte, muito além de tudo isso, é uma boa companhia, para todos os momentos e pessoas de todas as idades. Como também registra o “locutor de sete Copas do Mundo”, nem tudo é alegria nesta profissão. Há os momentos de tristeza, quando se tem de levar ao público uma notícia desagradável.
Os mais antigos dizem que ser radialista é um dom, sangue que corre nas veias. Faz sentido. A família de Itajay é prova disso. O pai dele, Ângelo Pedra Branca, foi o primeiro do clã, seguido por seu filho mais velho, Itaracy Pedra Branca e, logo após, o próprio Itajay. Depois dele, vieram seus filhos, Júnior e Andrews Pedra Branca. Na minha família, tudo começou com o meu pai Ribeirinho, que fez muito sucesso em Serrinha e região, por décadas, nas rádios Difusora e Regional – nesta última, onde aposentou-se. Meu irmão mais velho, José Ribeiro, seguiu os seus passos, e eu também, ambos sem atingir a fama e mesma audiência daquele que nos inspirou.
É a paixão pelo rádio que move o sonho do protagonista desta reportagem, Raildo da Silva Almeida, o radialista Raildo Silva. Aos 61 anos de idade, orgulhosamente nascido em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, é casado há 37 com dona Hilda Lima Nunes e pai das jovens Keyla e Karine. O popular “Nego dos 4”, como é mais conhecido e gosta de ser chamado, tem a sua residência localizada na comunidade denominada Quilômetro 4, às margens da BR 324. Ao lado do Acampamento Maanain, fica a oito quilômetros da cidade de Tanquinho, mas é parte do município de Santa Bárbara.
Pois bem, ele tem uma meta que deseja cumprir “antes de partir deste mundo”: a reabertura de sua rádio comunitária Lage FM. Interditada pela Anatel (Agência de Telecomunicações do Governo Federal), a emissora, que entrou no ar em 2008, funcionou por 14 anos. As atividades foram suspensas em 2021 por falta do necessário registro, uma terrível burocracia a ser enfrentada junto à União.
Desde então, Raildo vive verdadeira saga, pela legalização e reabertura da emissora. Incentivado por amigos a criar na internet uma rádio web, ele reluta. Quer mesmo é o seu veículo de comunicação original de volta. Uma rádio comunitária funciona em frequência modulada (FM), tem baixa potência (25 Watts) e cobertura restrita a um raio de 1km a partir da antena transmissora. Podem explorar esse serviço somente associações e fundações comunitárias sem fins lucrativos, com sede na localidade da prestação do serviço.
Recentemente, esperanças foram alimentadas pela promessa do ex-ministro João Roma, homem forte no governo do presidente Jair Bolsonaro, com quem Raildo conversou pessoalmente e apelou por ajuda para destravar o processo já encaminhado.
Enquanto não consegue a liberação, o apaixonado comunicador improvisa um meio de manter o contato diário com seus ouvintes. Instalou um autofalante, fixado em uma árvore, e, de sua residência, toda manhã bem cedo, faz um programa musical e informativo, recheado de mensagens para elevar a autoestima das pessoas e acalentar a alma do público que passa por ali. Alguns param sob a sombra para ouvi-lo. Mas o que ele deseja mesmo, apaixonada e obstinadamente, é voltar a oferecer a programação da Lage FM, das 6 da manhã às 5 da tarde, como antigamente fazia. Não é questão de sobrevivência, diga-se.
Afinal, independente da pouca renda que o rádio tenha lhe oferecido – ele diz que sempre fez por amor, não pelo dinheiro – Raildo se mantem, e criou suas filhas, graças à Mercearia RS, comércio de alimentos, bebidas e utensílios que herdou do pai, Domingos Tertuliano de Almeida. Ele foi auxiliar de “Domingão” desde os oito anos de idade. O velho comerciante faleceu em 1980.
Portanto, a sua relação com o negócio já tem mais de 50 anos e é lá que “bate ponto” todo dia, de domingo a domingo, a partir das 6h30.
A mercearia RS, “point” do Quilômetro 4, aos domingos, pela manhã também oferece serviço de açougue, o que proporciona a viajantes e residentes próximos degustar uma gostosa carne assada, acompanhada da cerveja sempre muito bem gelada.
“RELAÇÃO DE AMOR” TEVE INÍCIO EM 79, NA RÁDIO DIFUSORA DE SERRINHA
Filho de Santa Bárbara e nascido no povoado de Lage (daí a origem do nome de sua rádio comunitária), a relação amorosa de Raildo com a comunicação começou em 1979, na Difusora de Serrinha, hoje Continental, onde conheceu e foi colega de famosos como Nelson Lopes, Edney Santiago, Paulo Santana, Aremar Bacelar, Adelmário de Araújo, Aldo Matos, Jorge Teles, Salvador Rodrigues, Werner Rodrigues e Ribeirinho. Sua primeira experiência no ar foi com o quadro “Nossa terra, nossa gente” durante o programa “O Domingo é nosso”, apresentado por Nelson Lopes. Raildo, cujo talento não se limita a arte de apresentador, tocava violão e cantava as coisas do sertão.
Em 1981, passou pela Rádio Fundação, de São Gonçalo dos Campos, onde apresentou a atração “Boa Tarde, Brasil”, horário terceirizado, às tardes de sexta-feira, das 15 às 17 horas. Em 1985, de volta à Difusora, comandou o “Clube do Sucesso”, aos sábados, também das 15 às 17. O ápice da carreira em 1988, quando obteve a oportunidade de fazer parte do “cast” da Rádio Sociedade de Feira de Santana, a “Pioneira”, mais antiga emissora do interior da Bahia, agora, Sociedade News. Ali apresentou o “Sábado Especial”, das 21 horas à meia-noite. Também comandou o “Domingo Maior”, no mesmo horário.
De retorno à Difusora, em 1990, foi o âncora, durante aproximadamente seis meses, do “Show da Manhã”, aos sábados, das 8 horas ao meio-dia. Ao final de mais esta passagem pela emissora serrinhense, Raildo Silva passou a atuar como free-lancer (contratos temporários) em transmissões específicas. Cobriu a Micareta de Feira de Santana, principalmente na Rádio Jacuípe, de Riachão, e São João de Tanquinho, pela Sisal, de Coité, e Regional de Serrinha.
Atualmente, faz o programa “Sábado Especial”, na web rádio Melodia, em Tanquinho, fundada pelo amigo Raimundo Melodia, falecido este ano. Também apresenta eventos pela Prefeitura de Santa Bárbara. Admirador dos noticiaristas Agnaldo Santos e Henrique Cerqueira, ele confessa, no entanto, que gosta mais de musicais e tem como “inspiração” o apresentador Antonio Carlos Cerqueira, o “Professor do Amor”, um dos locutores de maior audiência em todos os tempos na Rádio Sociedade de Feira.
Do Portal Acorda Cidade/Texto: Valdomiro Silva
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