Foto: Divulgação / US Navy
Em meio ao acirramento da disputa geopolítica entre Estados Unidos e China, ambos os países enviaram porta-aviões para fazer exercícios militares em regiões consideradas chinesas por Pequim.
A provocação mútua é uma intensificação da rivalidade a partir da confirmação de que Joe Biden, o novo presidente americano, vai seguir o caminho de confronto aberto por seu antecessor, Donald Trump.
A Guerra Fria 2.0 do republicano, iniciada em 2017, abarcou quase todos os campos de competição possível, da autonomia de Hong Kong às redes de tecnologia móvel 5G, e obviamente tem um componente militar central.
A ideia dos EUA é evidenciar a principal fragilidade estratégica chinesa, que é sua dependência de rotas marítimas para manter sua indústria viva, tanto exportando (20% do PIB chinês vem daí) quanto recebendo commodities e insumos (80% do petróleo vem pelo Índico).
Para tanto, Washington reviveu o Quad, um grupo de aliados seus no Indo-Pacífico formado por Japão, Austrália e Índia, focado em exercícios militares conjuntos para demonstrar capacidade de estrangulamento e cerco aos chineses.
Sob Biden, o clube fez sua primeira reunião de líderes e buscou enfatizar ainda aspectos políticos, como facilitar acesso a vacinas contra Covid-19 no Sudeste Asiático, para contrabalançar a diplomacia sanitária de Pequim.
O americano também armou uma arapuca diplomática ao aceitar um encontro de cúpula de chanceleres no Alasca, mas promovendo sanções renovadas a chinesas devido à repressão em Hong Kong na véspera da reunião.
No encontro, a abertura americana foi recheada de críticas aos chineses, que responderam dobrando o tom. O clima até amainou e a abertura foi feita, mas o gosto permanece azedo.
Ao longo da semana passada, as Filipinas se queixaram da presença de uma milícia chinesa no disputado recife de Whitsun, no mar do Sul da China. A ditadura comunista considera 85% daquelas águas territoriais suas, e militarizar pequenas ilhotas e atóis é parte dessa estratégia de ocupação desde 2014.
Pequim afirma que os barcos que tem por lá são só pesqueiros. Coincidência ou não, o porta-aviões nuclear USS Theodore Roosevelt, um dos 11 dos EUA, entrou no domingo (4) na região, atravessando o estratégico estreito de Malaca --por onde passa o grosso do comércio marítimo chinês.
Poucas horas antes, ainda no sábado (3), 1 dos 2 porta-aviões da China, o Liaoning, fez uma travessia no estreito de Miyako, onde ficam as disputadas ilhas Senkaku --que são desabitadas mas têm potenciais reservas de petróleo, e por ora são controladas pelo Japão.
O Ministério da Defesa do Japão criticou o movimento, chamando-o de provocativos, e aproveitou para se queixar da nova lei regendo a Guarda Costeira chinesa, que permite ataque a qualquer navio estrangeiro em águas que Pequim considere suas.
Segundo o centro Iniciativa de Investigação de Situação Estratégica do Mar do Sul da China, da Universidade de Pequim, um destróier americano, o USS Mustin, também se deslocou pela região das Senkaku, no mar do Leste da China, no fim de semana.
As Senkaku são conhecidas como Diaoyu pelos chineses e também são reclamadas com menos ênfase pelos taiwaneses, que as chamam de Tiaoyutai.
Taiwan, ilha que Pequim considera sua, também registrou um pico de tensão nesta segunda (5). Pelo menos dez caças chineses entraram em sua Zona de Identificação de Defesa Aérea, área em que os países se dão ao direito de exigir que qualquer aeronave se reporte, sob pena extrema de abate.
Os chineses têm feito isso com frequência, embora obviamente não tenha havido nenhum conflito. A ideia é testar a rapidez e eficácia com que Taipé envia caças para afastar os aviões invasores.
Analistas têm notado uma alteração na tática chinesa também. Ao longo da semana passada, caças foram vistos circundado Taiwan, e não apenas testando suas defesas viradas para o estreito que leva o nome da ilha e a separa do continente.
No fim de semana, o mesmo ocorreu com um avião de patrulha marítima Y-8, o que leva a crer que a China está ampliando seu conhecimento sobre as táticas taiwanesas.
Poucos fora da ilha esperam uma invasão no médio prazo, contudo, dado o risco de fracasso e de trazer os EUA, aliados de Taiwan, para uma guerra que hoje não interessa a ninguém.
Do Portal Bahia Notícias/por Igor Gielow | Folhapress
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