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segunda-feira, 20 de julho de 2020

Cientista brasileira desenvolve “super-sabonete” que protege por 6 horas contra o coronavírus

RFI – A cientista Fernanda Checchinato desenvolveu um sabonete bactericida que protege contra o novo coronavírus e permanece ativo na pele durante horas. A startup fundada pela engenheira química, que fez parte do doutorado na França, também produz e comercializa um spray para higienizar máscaras em tecido.

A diferença entre o “super-sabonete” e outros antissépticos presentes no mercado é o princípio ativo clorexidina, explica Fernanda. O ativo, já bastante conhecido e utilizado na área hospitalar, tem uma ação residual que permite que a proteção antiviral e bactericida dure mais tempo.

“O que eu fiz foi desenvolver uma fórmula de sabão que não agredisse a pele, que realmente lavasse a sujeira do corpo, porque esse é o objetivo de um sabonete, que tivesse perfume agradável e que fosse bactericida. Então, para dar o efeito de assepsia, adicionei a clorexidina”, explica. Segundo ela, este é o primeiro produto de higiene pessoal no mundo que usa o composto.

“Isso significa que se você tomar banho com o sabonete ou lavar as mãos, ele mata vírus e bactérias no ato. Mas se uma hora depois você encostar em uma maçaneta contaminada, você não vai ser infectado, porque ele fica na epiderme e continua fazendo efeito, matando as bactérias ou vírus por até 6 horas”, completa. 

O sabonete também tem uma coloração verde que permite visualizar áreas da pele que não foram devidamente lavadas. 

A clorexidina é muito utilizada em hospitais e em consultórios de dentistas para higienizar a pele antes de cirurgias. “Qualquer micro-organismo que esteja no ar e encostar na área tratada com o produto morre, seja bactéria, fungo ou vírus, evitando a contaminação hospitalar”, explica Checchinato. “É um mecanismo do próprio ativo”.

Fernanda é CEO e fundadora da startup de alta tecnologia Aya Tech, que desenvolve e comercializa o produto. O sabonete líquido que recebeu o nome de Gy, como o apelido da filha de Fernanda, que se chama Giovana, também tem em sua fórmula óleos essenciais de menta e de melaleuca – árvore muito comum na Austrália, que tem propriedades antibióticas, bactericidas e fungicidas.

Higienização de tecidos

Outro produto desenvolvido pela startup de Fernanda é um aerosol que pode ser aplicado para higienizar máscaras de pano, usadas como proteção contra a Covid-19. O spray Microbac, em princípio criado para impedir o desenvolvimento de fungos e bactérias em tecidos e ajudar pessoas alérgicas, acabou também se mostrando útil contra o coronavírus.  

“Quando aplicado na roupa, principalmente na máscara, ainda que a pessoa entre em contato com bactérias e vírus, os tecidos não vão se contaminar”, explica a cientista. “Porque tem uma substância química que cria uma camada de milhões de nanopartículas desinfetantes. Quando os microrganismos encostam no tecido, eles morrem, ficam inativos”, explica. Segundo ela, o spray elimina 99% das bactérias e vírus e a proteção pode durar até dois meses, se a peça não for lavada.

Além do sabonete e do desinfetante de tecidos, a startup desenvolveu um gel e um spray antissépticos sem álcool com os mesmos princípios ativos do Gy. Eles foram criados no ano passado, pensando em pessoas de pele sensível, como crianças e idosos, para evitar os vírus H1N1 e influenza, causadores da gripe. “É a primeira linha de antissépticos sem álcool no mundo”, explica a cientista que recebeu a liberação da Anvisa para comercializar os produtos em fevereiro, exatamente quando os primeiros casos de Covid-19 surgiram no Brasil. “Foi uma coincidência”, diz.

Já o “super-sabonete”, foi desenvolvido pensando no SARS-Cov-02. “As pessoas falavam, ‘a gente toma banho, sai na rua e quando volta tem que tomar banho de novo’. Comecei então a trabalhar e a pensar nele em abril e ficou pronto agora”, diz Fernanda sobre o produto que começou a ser vendido na semana passada.

Cientista empreendedora

A Aya-tech foi a primeira empresa brasileira a ser selecionada para participar, em 2018, de um programa de aceleração de startups promovido pela Agência de desenvolvimento e inovação da Grande Paris, a Paris Co, que trabalha com 500 empresas francesas e estrangeiras por ano.

O programa durou um mês, mas a história de Fernanda com a França começou  antes. Formada em engenharia química pela Universidade Federal de Santa Catarina, ela fez parte de seu doutorado no centro de Química, Física e Eletrônica (CPE), da Universidade de Lyon, que faz parte do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS). Na época, ela desenvolvia  estudos sobre plásticos bactericidas para alimentos.

Ao votar para o Brasil, por falta de opção de bolsas para pós-doutorado e sem previsão sobre abertura de concurso para professor na universidade, Fernanda começou a trabalhar como pesquisadora em uma metalúrgica que fazia eletrodomésticos e iscas para pesca.

“Mas era uma empresa machista, eu era a única mulher chefe de setor e sofri horrores de boicote. Aí resolvi pedir demissão e montar a Aya”, conta a cientista empreendedora. “Na época, nem existia o conceito de startup. Mas fiz com tudo muito enxuto e deu certo.”

Fernanda diz que não tem investidores nem sócios, e que desenvolve os produtos com capital próprio. De acordo com ela, por isso o processo de lançamento é mais demorado. “Precisamos que um produto nosso venda para gerar capital para desenvolver um produto novo. Avançamos com passos de formiga, mas também não temos dívidas. Estamos crescendo organicamente”, acrescenta, sem esconder o desejo de internacionalizar sua produção.

Do Portal Gazeta Brasil


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