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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Marina, Dilma, a castanheira e o cimento

Dilma Rousseff, candidata à reeleição (Foto: AP)
A campanha de Marina Silva tem enfrentado dois inimigos, ou talvez duas faces do mesmo inimigo: o patriarcado. Uma corrente é mais sincera, digamos assim. É a mera arrogância em desqualificar uma índia-negra nortista e mística como despreparada, em si, para exercer a presidência.
A outra, mais hipócrita, é a mesma que dizia pela boca do Lula presidente que Marina era “o Pelé” do ministério, e agora a transforma em um “novo Collor”. Vinda do PT, é uma acusação bizarra. A propaganga anti-Marina diz: “sabemos como isso terminou”. Sabemos, claro: the original Collor está na base petista.
E a tosqueira da campanha valeu um puxão de orelha de Eduardo Suplicy no próprio partido. Mas porque essa opinião seria patriarcal se, na verdade, trata do embate de duas mulheres, no segundo turno? Porque não há nada mais patriarcal do que a propaganda fetichista, vazia de sentido real. Já é suficientemente ruim encarar qualquer coisa como produto; acreditar que o marketing se sobrepõe totalmente às eventuais qualidades do “produto” é catastrófico.
Um exemplo drástico disso nesta campanha eleitoral é o Funk do Aécio. Todo mundo culturalmente informado sabe, ou deveria saber, que um dos combustíveis dos gêneros artísticos do gueto e do underground é a credibilidade de rua. O funk do Aécio é uma peça publicitária que qualquer detrator do candidato compartilha com enorme prazer, porque é toda errada. Da presença de playbas e patricinhas branquinhos à evidente desconexão entre o estilo da música e o discurso convencional da política – e à genial frase (enquanto chacota) “Minas se modernizou, isso todo mundo sabe. E agora até minha vó tá usando Whatsapp”.
Um dos principais ataques a Marina nos últimos dias foi a, hm, acusação de que ela usa a leitura aleatória da bíblia como uma fonte de inspiração. Aí há não um, há dois preconceitos acoplados. Eu mesmo tenho birra com a bíblia, por causa das implicações repressivas do cristianismo (e das religiões monoteístas em geral). Mas não sou, absolutamente, contra o uso de oráculos ou dispositivos mágicos como disparadores de insights.
Confrontada na entrevista no Jornal Nacional, da Globo, na segunda-feira, a resposta da candidata foi exatamente essa. Para além da razão, cada pessoa é um “pacote cultural”, e vai procurar os insights (ela usou o termo) que lhe sejam úteis, onde for. Tanto nas disciplinas científicas quanto na arte e, porque não, nas conexões místicas.
O ápice dos ataques nessa linha veio do físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, que escreveu na Folha de S. Paulo: “O fundamentalismo de Marina Silva não decorre da ignorância, mas de um defeito de percepção. Os especialistas chamam essa condição de desordem do desenvolvimento neural”.
Mas quem conhece a história de Marina sabe que ela representa exatamente o oposto do comportamento usual na ortodoxia neopentecostal, em que o “lugar da mulher” é apoiando o seu homem. Nas igrejas evangélicas, a mulher é a santidade, o homem é o santo. Mas Marina é seu próprio milagre.
Mesmo que não saiba, ou não queira, Marina é uma feminista orgânica, enfrentando a sociedade e os machos que tentam lhe impor limites – passando pelo próprio Lula. Dilma é uma criatura bem mais cordata com seu Pigmalião.
Como escrevi neste outro texto, O Sorriso de Marina, ela tem um quê tropicalista. Não se parece com Gilberto Gil, seu colega negro de ministério, e depois de Partido Verde – mas sua vida poderia ser uma letra escrita por ele. Ou, como postou meu amigo Xico Sá no feice, “Sou mais Dilma por questão de classe, mas dou valor à biografia, à luta, à honestidade de Marina da Silva. E fazer a boa política é nunca pensar em desconstruí-la; precisamos dela, é decência, amor, honestidade, importância, que mulher phoda, boniteza da floresta”.
Num belo texto, onde explica no que Os Silvas são diferentes entre si, a jornalista Eliane Brum escreve que Marina representa não o proletariado brigando pelo acesso ao consumo, mas o não-pobre, o não-emergente, o não-ostentatório.
No meu trecho predileto, ela conta: “Em 2011, quando se começava a implantar o canteiro de Belo Monte (…) o chefe de uma das famílias que seriam obrigadas a deixar a terra onde viviam (…) abraçou uma castanheira e desandou a chorar. Tentava me explicar por que ele não podia ser – sem ser ali. Ou a impossibilidade de habitar um mundo sem aquela árvore específica. De repente, o choro estancou e sua voz se encheu de raiva: ‘Fico revoltado quando Dilma diz que somos pobres. Por que ela pensa que somos pobres? De onde ela tira isso? Essa é a maior mentira’”.
Numa outra frente, que não a da desqualificação do adversário, o PT saiu correndo em busca das interlocuções do governo Lula que a gestão Dilma havia perdido. A principal provavelmente foi a escalação do ex-ministro e sucessor de Gil, Juca Ferreira, para coordenar (a um mês do fim da votação) o programa de governo na área cultural.
É uma guinada notável. No começo do mandato, Dilma havia inventado uma ministra, Ana de Hollanda, que se aliou ao ECAD e atrasou em várias décadas as formulações do governo federal sobre cultura, tecnologia, autoria etc, jogando a discussão para meados do século passado.
Agora Ana de Hollanda reagiu à indicação de Juca com uma nota indignada, acusando-o de belicoso e de ter “pouca relação ou conhecimento da complexa realidade do mundo da cultura” (definição que cabe melhor na própria Ana). Ou seja, mesmo quando acerta, o PT o faz tarde demais, porrazões suspeitas e expondo suas próprias contradições.
É por isso que a entrada de Marina em cena fez girar o triângulo estético (e ético) da disputa presidencial. Antes era a mulher Dilma contra dois caras fisicamente parecidos, os bochechas-rosadas-e-cabelinhos-com-gel Aécio e Eduardo Campos (mesmo que de perfis bem diferentes, respectivamente um playboy e um family man). Levava vantagem.
A parda Marina faz Dilma (que “tomou um banho de cimento”, nas palavras de um amigo meu) se igualar a Aécio: os crentes no marketing fetichista, os “produtos” da publicidade sagrada, os sacerdotes de um deus ausente.
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Do Yahoo - Por  | Alex Antunes

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