sábado, 21 de setembro de 2019

Fungo dizima plantações de bananas pelo mundo


A banana, uma das frutas mais consumidas do mundo, está sob a ameaça da expansão global de uma nova variedade do Mal-do-Panamá --um tipo de fungo cientificamente batizado de Fusarium oxysporum, cujos estudos identificaram a existência de quatro raças. 


Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), esse fungo pode contaminar mais de 80% das espécies de bananas cultivadas no mundo e seu poder de destruição é tal que pode levar à perda de 100% do campo cultivado.

O fungo se hospeda no solo e é extremamente persistente, sobrevivendo por até 30 anos. As bananeiras infectadas sofrem o amarelamento das folhas, murcham e morrem --daí um dos apelidos da doença ser murcha de Fusarium. 

A disseminação é feita por mudas ou solo contaminado, que pode ser carregado por maquinário, ferramentas e até sola de botas. As bananas não chegam a ser afetadas, nem há risco à saúde humana, mas dizima as plantações.

O Fusarium já é um velho inimigo da fruta. Entre os anos de 1900 e 1960, a raça 1 afetou plantações de banana do sub-grupo Gros Michel, o principal tipo exportação daquela época. Nos anos 30, destruiu cerca de um milhão de pés de bananas em Piracicaba, interior de São Paulo.

A banana que comemos hoje não é a de 50 anos atrás, já que a Gros Michel teve de ser substituída por variedades resistentes da Cavendish, como a nanica.

Em caso de uma epidemia global, os bananicultores do mundo podem novamente ter de trocar suas plantações por novos tipos, o que significaria um enorme prejuízo.

"Isso pode levar à substituição de variedades de bananas mais consumidas por outras de menor aceitação pela população e que não tenham características para cultivo comercial --de resistência ao transporte, exportação-- como as Cavendish, mas que tenham resistência ao fungo", conta Josiane Takassaki, pesquisadora do Laboratório de Doenças Fúngicas em Horticultura do Instituto Biológico de São Paulo.

A ameaça global em curso é liderada pela raça 4 do fungo, o R4T, que não tem registro no Brasil. 

Sua expansão teve início na década de 1990, em bananeiras da Ásia. Os primeiros registros ocorreram em Taiwan, Malásia e Indonésia. 

Na década de 2000, se alastrou rapidamente pelo Sudeste da região e, então, alcançou o Oriente Médio e a Austrália. O sinal de alerta foi acionado em 2013, quando a doença contaminou plantações em Moçambique, na África.

As medidas de contenção da praga, como isolamento das áreas de cultivo e destruição dos bananais, não foram suficientes para evitar que ela chegasse às Américas, com o primeiro caso confirmado na Colômbia, em junho deste ano.

Segundo o ICA (Instituto Colombiano Agropecuário), as seis áreas infectadas no departamento de La Guajira, ao norte, foram isoladas e parte das plantações destruídas.

A suspeita é de que a contaminação tenha se dado por importação de maquinário sujo. A região de La Guajira fica na costa do Mar do Caribe, onde estão importantes produtores da fruta, como Panamá, Costa Rica e Honduras.

O Ministério da Agricultura brasileiro diz que, após a confirmação do caso na Colômbia, proibiu a importação de mudas e intensificou a vigilância na região fronteiriça. A fronteira com a Colômbia tem mais de 1.600 km de extensão, permeada por rios.

Em agosto, foram vistoriadas propriedades em Tabatinga, Benjamin Constant e Atalaia do Norte, no Amazonas, na região da tríplice fronteira com Peru e Colômbia, sem que fosse detectado nenhum caso suspeito. 

O presidente da Conaban (Confederação Nacional dos Bananicultores), Jeferson Magário, diz que a entidade enviou ofício ao Ministério da Agricultura solicitando uma reunião para alinhar medidas de controle fitossanitários e mais informações sobre a doença, mas não obteve resposta.

O Ministério informou que o ofício foi recebido e que vai se organizar para realizar a reunião solicitada na maior brevidade possível.

Brasil pode ter dificuldade de identificar praga Uma das principais medidas para a contenção de uma nova doença em cultivos é sua rápida identificação e contenção, o que seria um problema no Brasil.

Os bananais do país convivem há décadas com a raça 1 do Fusarium, que afeta principalmente as bananas dos tipos maçã e prata. 

"O que se faz hoje é manejar a cultura com controle biológico, de cultivo e testar outras variedades", diz o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Fernando Haddad.

Segundo o pesquisador, a versão 4 atinge todas as variedades suscetíveis à raça 1, mas é ainda mais agressiva e contaminante, apesar de os sintomas serem os mesmos. 

"Se houver uma introdução do R4T por um bananal de prata ou maçã, nós não vamos diferenciá-los visualmente, e talvez não façamos a contenção na velocidade necessária para evitar que ela se espalhe", explica.

O Brasil tem mais de 500 mil hectares de banana plantados. No Vale do Ribeira (SP), uma das principais regiões produtoras do país, com 25 mil hectares e uma produção anual de 1,1 milhão de toneladas, os agricultores se preocupam com uma rápida expansão da R4T, ainda sem frutas resistentes à doença.

"Somos uma região com 270 mil habitantes, onde a principal atividade econômica é a bananicultura, para alguns municípios chega a representar 80% do PIB (Produto Interno Bruto). O que a gente espera é que o governo mantenha as barreiras fitossanitárias nas fronteiras e dê apoio ao produtor na prevenção", diz Jeferson Magário, da Conaban (Confederação Nacional dos Bananicultores), que também é presidente da Abavar (Associação dos Bananicultores do Vale do Ribeira).

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) mantém um programa de melhoramento genético de mudas e variedades, com bons resultados para a raça 1 do Fusarium, mas ainda não há variedades resistentes à raça 4 no mundo.

A esperança pode vir da engenharia genética. 

Mudas geneticamente modificadas da variedade Grand Naine produzidas pela Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália, mostraram resistência em solos infectados com R4T. 

Os resultados, porém, ainda são preliminares.


Do Portal Bahia Notícias/por Ricardo Ampudia | Folhapress

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