No povoado de Barreiras, zona rural de Barrocas, a prática de fazer objetos a partir do barro resiste ao tempo das máquinas e equipamentos e ao avanço tecnológico.
É certo que nos últimos anos a procura pelas peças reduziu, mas a cultura deixada há muito tempo atrás ainda atraí muitos olhares e admiradores. Os objetos fabricados na comunidade são; potes, panela, panela para feijoada, frigideira, jarro, moringa, minhaeiro e pratos, peças que é resultado de uma prática considerada Cultura Popular Indígena utensílios de cozinha que praticamente todos os povos da terra em algum momento a utilizaram para a sua evolução.
Também considerado como artesanato, a produção e comercialização ainda contribui na geração de renda na comunidade rural onde duas senhoras já somam mais de 15 anos de experiência. Foram elas que receberam nossa equipe e mostraram como é feito as peças de barro de forma rústica e manual.
Maria Percília Pomuceno Pereira e Maria Senhorinha da Silva Bispo, artesãs do barro têm algo em comum, aprenderam com suas sogras a fazer artesanato a partir do material retirado de tanques de terra, ambas produzem em suas casas e vendem para toda região as peças produzidas com muita dedicação, paciência e o principal, amor.
“Hoje poucas pessoas se dedicam, mas não deixo de fazer, todo dia estou na peleja, enfrentando dificuldades, mas é gratificante fazer o que você gosta”. Disse a Srª Percília.
A senhora Maria Senhorinha conhecida como Ló explicou todo processo. “Começamos manualmente retirando o barro do fundo do tanque e armazenando até ele secar, depois se tem a argila seca e em pedaços, para quebrá-la e a deixar quase similar a terra, utilizamos um cacete e quebramos até ela ficar fina, depois é passada na 'arupemba' conhecida como peneira para retirar as pedras e dejetos e em seguida é molhada transformando numa mistura homogênea e enfim é amassada manualmente com os pés e terra para não grudar no chão”.
As ‘tábuas’ se transformam em massas e aí entra o trabalho de criação da peça, primeiro são feitos rolinho de barro montado um em cima do outro, com um coité ou cabaça é feito o primeiro acabamento e molde enquanto a mistura ainda está mole, agora é por a criatividade e amor no que faz e ir dando vida à peça. Esse processo a senhora Percília falou que tentou passar para as filhas sem sucesso; “Eu já chamei elas para ensinar e dar continuidade ao que eu faço, mas há pouco interesse, mas eu não queria ver isso acabar”.
Antes de a peça ir para a fornalha é utilizado capuco de milho ou uma pedra lisa para nivelar e deixar as peças redondinhas e com o melhor formato possível, após este processo ela é levada para a fornalha e queimada até ficar com uma cor clara sinalizando está quase pronta.
Esse processo evoluiu com o tempo, desde a criação da peça, retirado do barro, queima e acabamentos foram sendo aprimoradas de acordo com o passar do tempo, a exemplo da fornalha, antes era feito um buraco no chão, as peças eram inseridas e lenhas cobriam as peças e então eram queimadas.
Apesar da evolução restam poucas pessoas fazendo este tipo de arte, com o passar do tempo e evolução alguns costumes foram deixados para trás, como conta as senhoras; “Antigamente não tinha energia ficávamos a noite toda, acendíamos o candeeiro e o tempo passava e quando percebíamos já era de madrugada, o problema era nossos esposos esperarem até tarde por nós”, brinca Percília.
As peças criadas tem boa aceitação no mercado de Araci e Barrocas nas feiras livres destas cidades, gerando uma renda extra para as duas senhoras que contaram que já vieram pessoas de muitos lugares procura das criações; “Já chegou muita gente procurando, pessoas que nunca vi em minha vida compram e encomendam para restaurantes, utilização própria, como enfeite ou uso pessoal”.
Uma Reportagem de Victor Santos publicado no Jornal @ Nossa Voz Impresso Edição Nº83
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