sábado, 6 de julho de 2024

Temperos baianos em Paris: Rafaelle analisa temporada no Pride e sonha com ouro inédito

Não irá faltar tempero baiano em Paris. Mais de seis atletas baianos estão garantidos nas Olimpíadas. Presente na lista do técnico Arthur Elias, a zagueira baiana Rafaelle promete chegar à Paris já em ritmo de jogo. Natural de Cipó, cidade que fica a mais de 250 km de Salvador, Rafaelle Leone é mais uma menina baiana que ousou sonhar. E que bom!

 

“Eu só queria jogar bola. Futebol sempre foi uma brincadeira pra mim. Não imaginava que poderia ter isso como profissão. Quando eu conto essa história pras meninas mais novas, elas não acreditam. Porque, na nossa época, não passava futebol feminino na TV”, declarou antes da Copa do Mundo, em carta aberta contando sua história para a Nike, marca de artigos esportivos.

 

A zagueira iniciou a carreira no futsal e, após se destacar, recebeu o convite do tradicional clube de futebol feminino da Bahia, o São Francisco do Conde. Logo aos 15 anos a baiana já estava mostrando o seu futebol nacionalmente, disputando a Copa do Brasil. Na carreira, além do São Francisco, Rafa conta com passagens pela Universidade de Mississippi (college), América Mineiro, Changchun Yatai (China), Palmeiras, Arsenal e atualmente está no Orlando Pride.

 


Rafa em campo pela Universidade de Mississippi. | Foto: Site oficial Ole Miss Rebels.

 

“Cheguei lá e vi as meninas desde pequenas com a mochila nas costas, a bola na mão, indo treinar. Futebol ali era coisa de menina. Na minha faculdade, só tinha time feminino de futebol, a gente viajava em avião privado pra jogar, tinha roupa de marca, chuteira de marca, foi ali que comecei a acreditar que aquilo poderia ser minha profissão”, declarou, sobre o período na faculdade. Ainda nos Estados Unidos, a brasileira teve a oportunidade em se formar Engenheira Civil.

 


Rafa em campo pelo Palmeiras | Foto: Instagram

 

No Palmeiras, Rafa foi um dos destaques na campanha que rendeu ao time feminino do Alviverde a primeira participação da história na Libertadores. O destaque no clube paulista chamou a atenção do gigante inglês Arsenal, que a contratou, fazendo com que ela se tornasse a primeira brasileira a vestir a camisa do time feminino dos Gunners, em 2021. Buscando ares “mais brasileiros”, após a eliminação da Copa do Mundo Feminina de 2023, Rafa assinou com o Orlando Pride, clube no qual se encontra atualmente.

 


Rafaelle em campo pelo Arsenal | Foto: Instagram.

 

No Pride, clube de outras duas brasileiras (Marta e Adriana), Rafaelle está no topo da tabela da National Woman’s Soccer League juntamente com o Kansas Kansas City Current, com o mesmo número de pontos e campanhas exatamente iguais. O duelo para desempatar está marcado para este sábado (6), às 20h30.

 

“Estamos muito felizes com o resultado dessa temporada, acho que o time vem numa crescente, mantendo um padrão muito alto desde o começo, não tivemos nenhuma derrota até hoje, e temos um grande jogo pela frente contra o Kansas City Current, que também ainda não perdeu, vai ser o 'duelo de titãs' agora”, disse Rafa em entrevista ao Bahia Notícias.

 


Rafaelle Leone com a camisa do Orlando Pride | Foto: Instagram

 

Devido à essa partida, a baiana só deverá se apresentar ao grupo que irá disputar as Olimpíadas na próxima segunda-feira (8).

 

“A seleção já vai estar se preparando e nós [do Orlando Pride] chegaremos após a partida, já em ritmo de jogo para a Olimpíada. Acredito que esse tempo vai ser muito bom para a gente se conhecer mais, não faremos nenhum jogo antes, estaremos só treinando para chegarmos bem e entrosadas nas Olimpíadas”, continuou, ainda ao BN.

 

O torneio feminino de futebol começará em 25 de julho, véspera da cerimônia de abertura das Olimpíadas, com jogos realizados em sete cidades francesas. O grupo masculino não se classificou para os Jogos de Paris. A final para decidir a medalha de ouro ocorrerá em 10 de agosto no estádio Parc des Princes, na capital francesa.

 

A seleção brasileira fará sua estreia em Bordeaux, no dia 25. O segundo jogo será contra o Japão, em 28 de julho, no Parc des Princes. O confronto contra a Espanha está marcado para o dia 31, novamente no Stade de Bordeaux.

 

E foi justamente sobre os Jogos Olímpicos o tema da próxima resposta de Rafaelle. A baiana de Cipó falou sobre como anda as expectativas dela para a disputa do torneio.

 

“A expectativa é a melhor possível! A gente já bateu na trave algumas vezes e vem agora com muita vontade de conseguir essa tão sonhada medalha de ouro. Temos um grupo misto com atletas experientes e outras mais jovens… Acredito que essa mistura é o segredo para vencer uma competição tão curta, com jogos tão difíceis, muito próximos um do outro, são 6 jogos em 2 semanas e 3 dias”, disse.

 

“Então vamos precisar de todo mundo, é um grupo pequeno, apenas 18 jogadoras que podem atuar, mas estamos muito confiantes. Todos os grupos são muito difíceis, acho que qualquer uma das 12 seleções pode ganhar essa medalha de ouro, então estamos ‘brigando’ por isso, faremos uma ótima preparação agora no Brasil para chegar bem lá na França”, finalizou Rafaelle.

 

Já em 2024, em amistoso preparatório para Paris, a baiana conseguiu realizar o sonho de jogar em casa: foi titular e capitã da Seleção Brasileira na vitória por 4 a 0 diante da Jamaica, em junho, na Casa de Apostas Arena Fonte Nova. 

 

"Jogar em Salvador, nem Formiga viveu e eu estou tendo esse prazer como baiana de experimentar isso. É uma emoção grande. Acho engraçado que, quando soube, conversei com o pessoal do Orlando: 'Por favor, eu tenho que estar nesse jogo em Salvador'. Terminava o treino, eu ia tratar, fazia sessão extra de recovery, saía do jogo e agradecia a Deus por estar bem. É uma coisa muito forte porque você vai ter sua família que te apoiou. Me emociono porque só eu sei como é difícil chegar na Seleção Brasileira e jogar na sua cidade. Minha mãe já foi ver meu jogo, mas meus amigos, meu primo, vão poder estar aqui. Muita gente só conhece a seleção na televisão. Estou feliz de viver esse momento", disse.

 

Ainda em 2023, Rafaelle deixou um recado para a pequena Rafinha, que vivia o futebol como brincadeira e não pensava em chegar tão longe com chuteiras no pé.

 

“Se eu pudesse reencontrar aquela menina no interior da Bahia que jogava futebol descalça na rua, eu diria pra ela: pode sonhar, pequena. Isso não é só brincadeira. Isso vai mudar sua vida, vai realizar todos os seus sonhos. Segue seu instinto, mas acredite: essa vai ser sua profissão na vida”.


Do Portal Bahia Notícias/Por Bia Jesus/Foto: Lívia Villas Boas / CBF


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