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A guerra dos tiranossauros continua. Alguns meses depois que uma equipe de pesquisadores americanos propôs que o Tyrannosaurus rex, mais famoso dinossauro de todos os tempos, na verdade corresponderia a três espécies diferentes, outros paleontólogos decidiram publicar uma contestação detalhada dessa hipótese.
Segundo eles, a ideia pode até ser interessante no papel, mas os argumentos usados para defendê-la não fazem muito sentido.
O novo estudo, assinado por uma equipe dos EUA e sob coordenação de Thomas Carr, do Carthage College, acaba de sair na revista especializada Evolutionary Biology, a mesma que abrigou a pesquisa original sobre o suposto trio de tiranossauros.
Os defensores da ideia, como o pesquisador independente Gregory Paul, afirmam enxergar uma variabilidade considerável nos níveis de robustez e na dentição dos fósseis dos superpredadores, a qual seria suficiente para propor que estaríamos diante de três espécies, e não apenas uma. Além disso, os bichos teriam vivido em épocas ligeiramente diferentes no fim da Era dos Dinossauros. De acordo com Paul e companhia, o correto seria considerar a seguinte divisão:
1 - Uma espécie mais antiga e robusta, o T. imperator, que tinha dois incisiformes (dentes equivalentes aos incisivos dos mamíferos como nós);
2 - Duas espécies mais recentes cuja dentição incluía apenas um incisiforme. A mais robusta seria o T. rex propriamente dito, enquanto a mais grácil (ou seja, de ossos mais delgados), receberia o nome de T. regina.
Os nomes científicos vêm das palavras em latim para "imperador", "rei" e "rainha", respectivamente. Quando o trabalho foi publicado, em março de 2022, Paul disse ao jornal Folha de S.Paulo que a diferença entre as espécies poderia estar ligada, por exemplo, a nichos ecológicos ligeiramente diferentes.
Embora todos fossem predadores de grande porte, os animais mais robustos teriam se especializado na caça ao poderoso Triceratops, o herbívoro que lembrava um rinoceronte anabolizado. Já o T. regina poderia caçar edmontossauros, comedores de plantas com bico de pato e sem os armamentos do Triceratops.
Já no momento da publicação do primeiro estudo, porém, muita gente duvidou da ideia, e a nova pesquisa detalha o porquê desse ceticismo. E a lista de motivos é grande, a começar por um fato apontado por paleontólogos como o brasileiro Rafael Delcourt, da USP de Ribeirão Preto (que não esteve ligado a nenhum dos estudos): a comparação se centrou basicamente na robustez do fêmur (o osso da coxa) e na dentição, o que seria pouca coisa para determinar diferenças entre espécies.
Carr e seus colegas também apontam que a diferença temporal entre os exemplares não está definida com clareza, já que a estratigrafia (basicamente a sucessão de camadas de rocha nos sítios paleontológicos) dos locais com fósseis de T. rex não tem estimativas precisas de datas.
O golpe mais grave contra a ideia das três espécies, no entanto, talvez tenha a ver com a proposta de que existiram formas "robustas" e "gráceis" de tiranossauros. Essa separação foi feita a partir de um índice que basicamente dividia o comprimento do fêmur de cada fóssil pelo diâmetro do osso (vendo, então, quais tiranossauros tinham fêmures mais "gordinhos").
No novo estudo, os pesquisadores fizeram essas mesmas contas com 112 espécies de aves modernas (que, no fundo, não passam de dinossauros carnívoros, aparentados aos tiranossauros) e quatro dinos carnívoros. Resultado: a variação na "robustez" dos tiranossauros está na média das aves de uma mesma espécie hoje em dia. Não faria sentido, portanto, separar os exemplares em espécies diferentes.
Por fim, Carr e companhia apontam que nem mesmo os critérios usados pelo estudo original seriam suficientes para classificar a maioria dos espécimes analisados como pertencentes a alguma das supostas três espécies. Com esse nível de incerteza, a classificação deixaria de ser útil, argumentam.
Para eles, é mais provável que a variabilidade dos espécimes de T. rex se deva a diferenças individuais, ligadas à idade ou à alimentação, ou mesmo a alguma forma de dimorfismo sexual (variação entre machos e fêmeas).
É improvável que o debate termine agora, no entanto. Gregory Paul já anunciou que vai publicar um novo estudo usando as ornamentações e calombos no crânio dos espécimes como argumento em favor da hipótese das três espécies.
Do Portal Bahia Notícias/por Reinaldo José Lopes | Folhapress