|
Cival Anjos: a população serrinhense merece ser tratada com dignidade |
Lembro-me quando cheguei aqui na cidade de Serrinha em janeiro de 1983, vindo ali da minha querida Bandiaçu, distrito de Conceição do Coité. Estava com 16 anos, prestes a completar 17. Recordo-me como se fosse hoje! Sempre fui um garoto de muitos sonhos e percebia que ali em minha terra natal não me oferecia oportunidades nem de estudos, nem de trabalho.
A vida em Bandiaçu
Como era filho de pais separados, minha mãe teve a necessidade de me dar para uma família adotiva aos 3 meses e alguns dias de vida e minha tia Terezinha Teles do Nascimento (In Memoriam) muito humilde, carinhosa e gentil convenceu meu saudoso avô, João Ferreira do Nascimento e minhas tias Aureliana e Maria da Conceição a me resgatarem do convívio com os pais adotivos para me criar.
Mesmo com toda dificuldade, na medida do possível me deram estudo, mas logo cedo tive que trabalhar ajudando eles na roça. Aos nove anos de idade já comecei trabalhar para ganhar dinheiro no sisal, pois este era o trabalho que predominava na região. Na minha primeira semana de labora receberia 95 cruzeiros, mas devido ao meu bom desempenho fiz jus a ganhar 100,00 (Cr$ cem cruzeiros).
Depois dai alternei entre trabalhar na roça e no sisal, porém confesso que não fazia com amor, pois tinha os sonhos de ser locutor de rádio ou cantor. No entanto, o trabalho pesado atrapalhou meus estudos, porque não estava dando para conciliar e cheguei a parar por 4 anos de estudar. Como não me deu o devido apoio até os 16 anos, meu pai biológico, Cristino Teles do Nascimento (In Memoriam), resolveu me convidar para vir morar com ele em Serrinha. Chateado com a vida que levava, sem muitas perspectivas de crescimento resolvi aceitar o convite, mesmo sabendo que seria difícil a adaptação, como foi, longe daqueles que me deram todo suporte até aquele momento.
Começo em Serrinha
Cheguei em Serrinha com muitos sonhos em janeiro de 1983 e o meu primeiro emprego foi no Gás Butano de Lulu entregando o produto em uma bicicleta vermelha, depois trabalhei na Panificadora Pirangy, onde hoje funciona a Lulu Motos. Vale salientar que em meu começo nesta cidade, para não ficar dependendo das pessoas cheguei a comer apenas pão com K'suco na hora do almoço e como não tinha dinheiro suficiente para comprar roupa era obrigado a lavar e vestir a mesma roupa ainda molhada. Em 1984 fui para São Paulo, mas não me adaptei e no mês de maio já estava de volta. Ao chegar fui trabalhar na extinta Legião Brasileira de Assistência (LBA) entregando alimentos nos bairros e zona rural de Serrinha.
Em 1987 me foi dada a oportunidade de trabalhar como vigilante neste órgão, aos 21 anos de idade. Lá fiquei até meados de 1993. Em 1994 comecei a trabalhar no Centro Social Urbano (CSU), também como vigilante onde fiquei até 1999. Como no ano de 95 eu já começava na comunicação no Vagão Som de Chicão, dei sequência na Rádio Comunitária Serrinha FM, depois Difusora AM, Regional, TV Serrinha, Difusora, participação na Rádio Jacuípe AM e desde 2005 até os dias atuais estou na Continental AM. É um trabalho que faço com amor e dedicação!
Estudos
Ao chegar em 1983, como morava na casa de meu pai na Rua 25 de Dezembro, Bairro das Abóboras, passei a cursar a 4ª série primária na Escola Ana Oliveira, a menos de 200 metros de onde eu residia. Ao retornar de São Paulo no ano seguinte, passei a estudar no Colégio Estadual Rubem Nogueira (CERN), onde em agosto de 1987 recebi o prêmio de melhor aluno do turno da noite. Sem repeti um ano sequer conclui o primeiro grau e fui cursar o segundo na Escola Normal de Serrinha (ENS) onde me formei em 1990. De 2006 até 2010 cursei a Faculdade de Comunicação Social na Universidade do Estado da Baia (Uneb) de Conceição do Coité.
A visão política sobre Serrinha
Da chegada a Serrinha em 1983 até o próximo mês já se vão 29 anos neste município e pouca coisa tenho na vida adquirida aqui. Isto prova que a maioria dos que trabalham e procuram viver honestamente não tem grandes oportunidades e nem reconhecimento neste município. Tenho certeza que, assim como outros decepcionados com as administrações desastrosas que por aqui têm passado, terei que amarrar a cachorrinha e puxar para outro destino se quiser deixar um legado além do caráter para as minhas gerações biológicas.
Visão sobre a população serrinhense
Assim como eu, também são vítimas do sistema e no momento que partir deste município será o que vou levar de bom nas minhas recordações, pois em quase sua totalidade são pessoas amigas, francas, sinceras, honestas, batalhadoras e que também sonham com dias melhores na cidade e no campo. Não me esqueço que em 2004 fui candidato a vereador e 102 eleitores confiaram o voto a minha pessoa por acreditarem que o que eu falo, vivo e faço. E tem um detalhe: não foram votos comprados, pois não concordo com compra de votos e, além do mais, eu fiz a campanha sem nenhum tostão, inclusive não tive um muro pintado com meu nome e 3 camisas que distribui foram doadas pelo cidadão Orlando Matos, outro profissional que a política suja de Serrinha exclui.
Mágoas
As únicas mágoas que tenho são de alguns políticos inescrupulosos que vêm degradando este maravilhoso município ao longo dos anos e de alguns colegas de profissão que na sua presença são uma coisa e na ausência são outra. São igual aquele personagem "Coxinha", verdadeiros falsos e que não admitem que são, os quais não vale a pena citar os nomes para não promovê-los, mas tenho certeza que antes de morrerem eles têm oportunidade de mudar.
Sonhos
Tenho a esperança que um dia entre um prefeito e uma câmara de vereadores que se preocupem realmente com a população por um todo com dignidade e que não priorize apenas as famílias tradicionais como vem acontecendo ao longo da história, pois um município deve ser gerido para ter uma sociedade feliz e que deem oportunidade de crescimento a todos que queiram vencer dignamente, pois os cidadão e cidadãs se qualificam com a perspectiva de subirem degraus, mas lhes são tiradas as oportunidades.
Cival Anjos